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A Guerra Tarifária Continua
Para onde nos levam as loucuras de Trump e para onde vão os lucros da Meta?
2 de Agosto de 2025

Boa tarde, coisinha sexy!
Nesta semana escrevemos sobre as novas tarifas globais , sobre os lucros da Meta e sobre o acordo comercial entre a União Europeia e os EUA.
Vamos lá!
PSI -1,38% | STOXX600 -3,25% | S&P500 -2,46% | NASDAQ -2,57% |
EUR/USD -0,043% | OURO 0,47% | CRUDE 2,92% | BITCOIN -3,90% |
META 4,95% | AMZN -7,95% | EGL 4,67% | GALP -2,33% |
Dados obtidos às 11:33 do dia 2 de agosto de 2025. Definições no final da nauta.
MERCADOS FINANCEIROS
Praça do Comércio

A notícia mais importante da semana: Donald Trump voltou a anunciar tarifas recíprocas globais!
Menos de uma semana depois da União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América (EUA) chegarem a um novo acordo tarifário (mais sobre isso em baixo), o Presidente dos EUA voltou a declarar guerra comercial ao mundo no dia 31 de julho de 2025.
As novas tarifas variam entre 10 a 41% e, a partir de 7 de agosto, vão aplicar-se a vários países incluindo Índia, Taiwan e até a Suíça, que já se mostrou “chocada”. Já o Brasil leva com tarifas de 50% porque não cancelou o julgamento de Jair Bolsonaro, como era o desejo de Donald Trump. De facto, até a imprensa norte-americana está a elogiar a prestação do Presidente do Brasil, Lula da Silva, que se recusa a “negociar” com Trump.
Numa altura em que a mesma publicação declara que Trump “está a vencer a guerra tarifária” e em que economistas de topo começam a ambientar-se à visão de Trump, enfrentar as ameaças de Trump é cada vez mais importante. Se, como o The Economist postula, as tarifas de Trump estão mesmo cá para ficar, é essencial que, à semelhança do Brasil, os grandes blocos económicos deixem as ameaças da Casa Branca como “vistas”.
E por falar em ignorar a Casa Branca… a Reserva Federal voltou a deixar as taxas de juro intactas!
Jerome Powell, Presidente da Reserva Federal, continua o seu braço de ferro contra Trump, ignorando todas as ameaças que exigem a redução das taxas de juro. A Fed continua assim a pausa nos cortes das taxas de juro, tendência que dura à 5 reuniões e mantêm as taxas entre os 4,25 a 4,50%.
No entanto, a Reserva Federal está dividida internamente pela primeira vez em muito tempo - 2 elementos do Conselho de Administração (nomeados por Donald Trump) votaram a favor de cortar as taxas de juro, indo contra a decisão do Presidente da Fed, algo que não acontecia há 30 anos.
Mais uma vez, a decisão de Powell mostrou-se acertada. Trump anunciou novas tarifas recíprocas globais um dia depois da decisão da Fed. Pior ainda, os dados mais recentes de emprego dos EUA mostram que o mercado de trabalho está a começar a colapsar. Trump já despediu a responsável pelas estatísticas que diz terem sido “manipuladas”.
A meta da Meta é: supremacia em Inteligência Artificial!
Os lucros da Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, subiram 36% quando comparados os segundos semestres de 2025 e 2024. Para onde vai este dinheiro? Para Inteligência Artificial (IA), que já vai aumentando as receitas da empresa. Assim, os investidores permanecem tranquilos em relação às quantias absurdas de dinheiro que a Meta está a gastar para contratar os melhores engenheiros em IA. O novo laboratório de “superinteligência” da Meta seguirá a visão do CEO Mark Zuckerberg: agentes de IA pessoais capazes de “superinteligência”.
ECONOMIA
O bullying económico continua

A UE e os EUA assinaram o “maior acordo comercial de sempre”. Será mesmo?
A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deslocou-se a um dos campos de golfe de Trump, na Escócia, para as negociações com Trump sobre o acordo comercial entre os dois maiores blocos económicos do mundo.
Antes de mais, é importante sublinhar que este não é um acordo final e vinculativo. Aliás, pode ser melhor comparado a um “cessar-fogo” económico que evita a escalada da guerra tarifária. As partes vão continuar a negociar os detalhes finais do acordo nos próximos meses.
Mas então o que é que foi acordado? Entre as tacadas de golf, Trump e von der Leyen concordaram no seguinte:
Tarifas fixadas em 15% (antes estavam em 10%), com isenções para alguns produtos específicos.
A UE compra 700 mil milhões de euros em energia (gás, petróleo e nuclear) aos EUA.
Compra adicional de 40 mil milhões de euros em chips de IA.
Investimento adicional de 550 mil milhões de euros da UE nos EUA até 2024, que pode incluir a compra de armas.
Fim de tarifas da UE sobre certos produtos industriais dos EUA.
Acesso facilitado a produtos agrícolas dos EUA, como soja, grãos, nozes e alimentos processados.
As tarifas aplicar-se-ão na generalidade dos produtos, incluindo carros e componentes automóveis. Existem categorias de produtos fora do acordo, que estarão sujeitos a mais negociações, como produtos farmacêuticos.
Os compromissos de investimento da UE nos EUA são também muito vagos. Este investimento terá de vir do setor privado, pelo que é impossível garantir que será cumprido na totalidade. A compra de energia é mais provável de acontecer, até porque a Europa quer deixar de depender do petróleo e gás russo. Ainda assim, os valores podem ser irrealistas. O compromisso dos países da NATO de investir até 5% em defesa também vai de encontro com a compra de armas aos EUA.
É um bom acordo?
Em uma palavra, não. Este acordo aumenta as barreiras tarifárias para a maioria das exportações europeias, pondo pressão especialmente nas pequenas empresas. Além disso, os compromissos de investimento irão colocar a Europa numa situação de maior dependência tecnológica e industrial dos EUA, especialmente em setores como a defesa.
Ainda assim, grande parte dos empresários está contente com o acordo. Apesar de não satisfazer completamente os interesses europeus, traz previsibilidade e estabilidade nas relações comerciais. Impede o aumento das tarifas e permite que as empresas tenham tempo de se adaptar.
As críticas choveram de todos os lados, desde Macron a Orban. No entanto, vale a pena referir que Ursula von der Leyen negociou em nome de toda a UE, com o conhecimento de todos os líderes europeus.
A ACONTECER
Tentativa de One Man Show
Zelensky tentou concentrar poder, mas o povo ucraniano saiu à rua em plena guerra.
O Governo ucraniano enfrentou uma crescente reação negativa após Zelensky ter assinado uma lei que limitava a independência das principais agências anti-corrupção do país: o Gabinete Nacional Anti-corrupção (NABU) e a Procuradoria Especializada Anti-corrupção (SAP).
Segundo a nova lei, o controlo destas agências seria transferido para o procurador-geral, nomeado pelo Presidente. Esta decisão foi criticada tanto por aliados ocidentais quanto por ativistas locais, que temiam retrocessos na luta contra a corrupção e o enfraquecimento das perspetivas de ingresso da Ucrânia na UE.
Zelensky justificou-se alegando a necessidade de combater a influência russa nas agências, mas foi acusado de comprometer instituições cruciais e ceder à centralização de poder. Perante os crescentes protestos, nomeadamente de jovens ucranianos, o parlamento votou a revogação da lei controversa que enfraquecia os organismos anti-corrupção.
Rapidinhas
Desde o final do ano passado que a economia portuguesa está quase estagnada, com o PIB a avançar apenas 0,2% desde então.
As contas públicas melhoraram no primeiro semestre face ao período homólogo. O Estado registou um excedente orçamental de 2 mil milhões de euros e a receita fiscal subiu 22%, impulsionada pelo IRC.
Portugal entregou a quarta proposta de reprogramação do PRR. Em causa está uma simplificação dos prazos e metas associados ao sétimo pedido de pagamento.
Para evitar um novo apagão, o Governo apresentou um plano com mais de 400 milhões de euros e um total de 31 medidas. Algumas já estão em vigor. Segundo as estimativas, o impacto na fatura da eletricidade será mínimo: um aumento de apenas 1 cêntimo por cada 25 euros.
O Governo anunciou uma reforma no Ministério da Educação, Ciência e Inovação, com a extinção de várias entidades, entre elas a FCT, que serão integradas em novas agências.
O Banco Central Europeu (BCE) vai introduzir uma nova série de notas, que poderá incluir a cientista polaca Marie Curie na nota de 20 euros (o que está a causar polémica).
Os cidadãos portugueses que pretendam estudar ou fazer intercâmbio nos Estados Unidos terão de tornar públicos os seus perfis de redes sociais. As autoridades norte-americanas irão analisar essa atividade online e usar as informações para decidir se autorizam ou não a entrada no país.
NAUTA DA SEMANA
BloodFlow
A BloodFlow, health-tech portuguesa incubada na Unicorn Factory Lisboa, acaba de levantar 1,2 milhões de euros numa ronda seed liderada pela 3xP Global. A meta? Lançar a sua solução de interpretação de análises de sangue com inteligência artificial até ao final do ano — e deixar os médicos a fazer o que fazem melhor: tratar pessoas, não procurar relatórios perdidos em PDFs do século passado.
👨⚕️ O que faz a BloodFlow?
A startup desenvolveu uma API que se integra com os sistemas clínicos existentes, automatizando o processo de leitura de análises e oferecendo aos médicos acesso imediato a insights críticos. Já está a correr pilotos com entidades como a Glintt e a 2CA Braga (onde vão analisar 100 mil perfis clínicos), e está agora a reforçar a equipa técnica, com novas contratações nas áreas de engenharia, qualidade e machine learning.
🏊♂️ De nadador a fundador
O CEO Tiago Costa foi atleta de alta competição no Sporting. Depois de uma década a fazer exames atrás de exames, percebeu que o verdadeiro problema estava fora da piscina: médicos sobrecarregados com sistemas fragmentados e dados espalhados. A ideia da BloodFlow nasceu no quarto dos pais — e em menos de um ano, transformou-se numa startup pronta a escalar
🌍 E agora?
Com o investimento, a BloodFlow vai apostar em certificações médicas, integrações clínicas e validações científicas para crescer em Portugal e Espanha. A parceria com a líder ibérica Glintt é chave para o plano de expansão, aproveitando o acesso a centenas de hospitais e clínicas.
RECOMENDAÇÃO
Cripto não é um casino (mas quase)!
Investir em cripto não é só saber o que é a Bitcoin. Este artigo explica os riscos (grandes) e os cuidados antes de entrares num mercado onde ganhar muito vem com a possibilidade de perder tudo. Fala-se de escolher a plataforma certa (centralizada ou descentralizada), evitar produtos alavancados que prometem o dobro mas podem levar-te ao zero, perceber o que realmente estás a comprar (criptomoeda ou derivado?), e distinguir projetos sérios de memes que duram dois dias.
Se estás a pensar investir em cripto, lê isto antes de trocar os teus euros por promessas em blockchain.
ABC DO DINHEIRO
REITS
Fundos de investimento imobiliário (REITS) são fundos que detêm, exploram ou financiam bens imóveis geradores de rendimento numa vasta gama de sectores imobiliários. Estes investimentos permitem obter rendimentos de bens imobiliários sem ter de comprar, gerir ou financiar os próprios bens. Existem três tipos principais de REITS: de ações, hipotecários e híbridos. A maioria dos REITs são negociados publicamente como ações, o que os torna altamente líquidos, ao contrário dos investimentos imobiliários tradicionais.
Curiosidade: Criados por uma lei de 1960, os REITS foram concebidos para tornar o investimento imobiliário mais acessível, para que os pequenos investidores pudessem investir numa carteira de arranha-céus, centros comerciais ou complexos de apartamentos com a mesma facilidade com que compram ações. Ao reunir o capital de muitos investidores, os REITs mudaram e financiaram grande parte do sector imobiliário americano.
No adeus desta edição queremos deixar um “aviso à navegação”: o Conselho de Ministros aprovou um anteprojeto de “reforma profunda” da legislação laboral, designado Trabalho XXI, que contempla mais de 100 medidas, destinadas a “modernizar e flexibilizar o mercado de trabalho”. Algumas medidas como a compra de até 2 dias extras de férias e a flexibilização do teletrabalho estão a ser bem recebidas, mas são acompanhadas de medidas muito polémicas como restrições ao direito à greve e a revogação da falta por luto gestacional. O nosso estagiário continuará a acompanhar a situação.
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Memes


As cotações apresentam os resultados semanais dos ativos referenciados. As quatro primeiras são índices que combinam os desempenhos de conjuntos de empresas. O PSI é o índice português, o STOXX600 é o índice das 600 maiores empresas europeias, o S&P500 e o NASDAQ são ambos dos EUA. As seguintes quatro são mercadorias e moedas. EUR/USD é o câmbio entre o euro e o dólar americano, ouro e crude dizem respeito aos contratos contínuos de ambos, e bitcoin é a mais popular criptomoeda (em euros).
As quatro últimas são ações de empresas que tiveram desempenhos notáveis durante a semana. Nesta semana temos META para a Meta (dona do Facebook), AMZN para a Amazon, EGL para a Mota-Engil e GALP para a Galp.
A nauta é um boletim informativo semanal sobre a atualidade económica, financeira e empresarial, escrita em língua portuguesa. Não é jornalismo nem consultoria financeira, mas uma oportunidade para aprofundares os teus conhecimentos nestes temas e acompanhares o essencial do mundo dos negócios e mercados financeiros.
Escrita por João Ornelas Raínho, Mário de Pinto Balsemão e Nuno Martins,
com a colaboração de Cristina Berenguer.