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A Mão Invisível do Mercado

11 de Janeiro de 2025

Bom dia, coisinha sexy!
Nesta semana escrevemos sobre a Mão Invisível do Mercado (e o seu controlo sobre Donald Trump), sobre a Lei dos Solos vs. Crise na Habitação e sobre a aquisição da Gronelândia pelos EUA Lda.
Vamos lá!

PSI -1,81%

STOXX600 0,54%

S&P500 -1,30%

NASDAQ -1,65%

EUR/USD -1,24%

OURO 1,47%

CRUDE 4,13%

BITCOIN -6,52%

NVDA -2,86%

EDP -6,39%

EDPR -11,32%

EGL -10,55%

MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

A notícia mais importante da semana: mais empregos criados do que o esperado nos EUA levaram os mercados a um mini-pânico na sexta-feira…

Nós explicamos: como escrevemos na semana de Natal, apesar do corte nos juros de 25 pontos percentuais base da Reserva Federal dos EUA, as incertezas relativas a novos cortes assustaram os mercados. 

As incertezas continuam e os mercados continuam assustados. A semana até estava a correr bem, mas na sexta-feira foi tornado público o novo relatório dos dados de emprego dos EUA e foram criados mais empregos do que o esperado - o que é mau porque a inflação poderá continuar alta, significando que em vez de mais cortes nos juros estes terão de permanecer altos durante mais tempo.

Isto é mau para todos a longo-prazo e os “primeiros” a perceber são, como quase sempre, os mercados financeiros. Será o fim dos cortes nos juros em 2025? Ninguém pode garantir, a resposta está algures na rivalidade entre Donald Trump e o Presidente da Reserva Federal!

Olho no fogão: as ações “quânticas” caíram depois do CEO da Nvidia as “observar”!

Para quem gosta mais dos mercados financeiros do que de música Pop, o CEO da Nvidia, Jensen Huang é a Taylor Swift das gigantes tecnológicas. A sua palavra é dogma. 

Portanto, não é surpreendente que mesmo no ano da Ciência Quântica, Jensen Huang seja capaz de destruir toda uma indústria apenas por dizer que computadores quânticos úteis estão entre 15 a 30 anos de distância. Sabemos que apenas está a proteger o “fosso” da Nvidia no atual paradigma da computação, sobretudo após os avanços da Google na computação quântica, mas foi suficiente para fazer cair as ações de empresas como Rigetti Computing, IonQ e D-Wave Quantum cerca de 40, 37 e 30%.

Galp: tubarões farejam sangue no ouro negro!

O CEO da Galp abdicou do cargo por “motivos familiares” após uma denúncia anónima implicar o mesmo numa relação amorosa com outra pessoa da hierarquia da petrolífera, violando o Código de Ética e Conduta da empresa. Dramas à parte, este foi o 4.º CEO da Galp desde que Paula Amorim assumiu a presidência do conselho e, apesar dos bons resultados e sucessos recentes da empresa, esta instabilidade atrai interessados em fusões e aquisições…

Quem diz é o Royal Bank of Canada, mencionando a Chevron como principal interessada em “engolir” a Galp, dadas as sinergias entre as duas empresas. Por agora, a Galp fica com 2 CEOs interinos.

ECONOMIA

A Mão Invisível do Mercado guiará Donald Trump

Não serão bilionários ou totalitários a controlar Donald Trump, será sim uma força oculta para além da nossa compreensão.

A Escócia já muito deu ao mundo - desde saias masculinas até pancadaria aos ingleses - mas a sua principal exportação é mesmo um filósofo e economista nascido no século XVIII: Adam Smith.

Para uns o Pai da Economia e para outros o Pai do Capitalismo*, Adam Smith ainda hoje influencia o debate político global. A mais provocadora das suas ideias é a ideia da Mão Invisível do Mercado. De forma simples, esta metáfora ilustra a forma como os mercados livres criam, “do nada”, incentivos para que indivíduos a agir em puro interesse próprio possam beneficiar os interesses públicos.

Existem, como não podia deixar de ser, muitas críticas a esta ideia fundamental. Desde as clássicas oriundas de Karl Marx, às modernas oriundas de economistas comportamentais como Daniel Kahneman, que já venceu um Nobel de Economia. Seja porque a Mão Invisível aumenta a desigualdade ou seja porque indivíduos raramente são 100% racionais, a metáfora facilmente encontra obstáculos. Especialmente num mundo onde as alterações climáticas são causadas por externalidades da revolução industrial - externalidades ignoradas pelos mercados livres.

No entanto, com o mundo inteiro a suster a respiração a semanas da tomada de posse de Donald Trump (mais sobre isso em baixo), a Mão Invisível do Mercado poderá ser a derradeira salvação…

A coligação construída por Donald Trump é ironicamente diversa. Os seus apoiantes vão desde bilionários imigrantes maioritariamente financiados pelo Partido Democrata (Elon Musk), líderes de pensamento do Vale do Silicone (encabeçados por Peter Thiel, da Máfia do PayPal), malucos como RFK Jr. e os tradicionais conservadores MAGA. 

Com uma caderneta de cromos tão abrangente, discussões e fragmentações são uma certeza absoluta. De facto, a 1.ª delas já surgiu: banir imigrantes ultra-qualificados ou não?

Sim, dizem os ultra-conservadores, e não, dizem os gigantes tecnológicos que precisam de talento para manter os EUA na vanguarda da civilização. E este é o cerne da questão: a quem vai dar ouvidos Donald Trump?

Aos Mercados!

Os loucos mercados de Donald Trump servirão de barómetro às suas políticas económicas em tempo real. Assim foi no seu primeiro mandato e assim será no próximo. Qualquer que seja a política económica a ser debatida, primeiro terá de ser aceite pelos mercados financeiros e só depois será aceite pelo presidente do “mundo livre”.

A grande força moderadora do caótico Presidente dos EUA será a Mão Invisível do(s) Mercado(s).

CRISE NA HABITAÇÃO

Será o Solo a Solução?

Uma nova lei dos solos pretende aumentar a oferta de habitação.

O Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT), também conhecido como lei do solo, foi alterado. A principal mudança consiste na criação de um regime especial para a alteração da classificação de solo rústico para solo urbano, por decisão das autarquias. O objetivo é aumentar a oferta de habitação a preços acessíveis, reduzir a burocracia e dar mais autonomia às autarquias.

Entre as medidas introduzidas destacam-se o processo simplificado, prazos reduzidos para aprovação, decisão local (assembleia municipal), registo predial automático e critérios de reclassificação mais claros.

A lei aplica-se a todo o território nacional, mas as regiões autónomas podem ter regulamentações específicas. Fora da lei ficam os terrenos em áreas protegidas, em zonas de risco, em áreas agrícolas de alta qualidade e com aproveitamentos hidroagrícolas, e ainda terrenos na área da Reserva Ecológica Nacional (REN).

A reclassificação de terrenos, desde que compatíveis com áreas urbanas existentes, deve cumprir os critérios estabelecidos na lei:  pelo menos 70% da área total de construção deverá destinar-se a habitação pública, arrendamento acessível ou habitação de valor moderado, de modo a garantir que a maioria da área construída seja efetivamente utilizada para fins habitacionais acessíveis para a classe média.

Segundo esta legislação, o conceito de “habitação de valor moderado” visa disponibilizar à classe média casas em que o preço por metro quadrado não exceda a mediana nacional ou 125% da mediana do concelho, até um máximo de 225% da mediana nacional.

Contudo, existem vários quadrantes da sociedade que se mostram críticas a estas alterações legais. Vários partidos pedem a revogação desta lei dos solos, citando elevados custos sociais, ambientais e económicos. 

A ACONTECER
Trump e Gronelândia - Um Amor Proibido

O Presidente-eleito reiterou a “necessidade” dos EUA adquirirem a Gronelândia.

A Gronelândia, uma enorme ilha no Mar Ártico, parte soberana do Reino da Dinamarca, está de novo na mira de Donald Trump. Este “romance” antigo deriva do facto de, aos olhos do recém eleito presidente americano, este ser um território crucial para as aspirações económicas e militares dos EUA. Mas, qual a origem deste amor proibido?

Esta ilha inóspita e gelada, com apenas 57.000 habitantes tem dois fatores muito importantes: é rica em depósitos minerais e situa-se no meio do Mar Ártico, possibilitando a quem controlar a Gronelândia, controlo sobre a rotas marítimas e aéreas cruciais entre os EUA, a Europa e a Rússia.

Os EUA já têm presença militar na Gronelândia, e até uma base militar aérea, estabelecida através de um acordo entre americanos e dinamarqueses. Assim, o maior interesse de Trump deverá ser na exploração dos recursos naturais gronelandeses, como grafite,lítio e potenciais vastos depósitos de gás natural e petróleo. A exploração comercial destes recursos naturais está proibida pelo Governo da Gronelândia, por razões de proteção ambiental.

A possibilidade de uma invasão militar da Gronelândia pelos EUA é muito reduzida, embora Trump não tenha descartado essa hipótese. No entanto, a chave para a “conquista” da Gronelândia pode ser usar uma abordagem mais…subtil. A independência da Gronelândia está nas mãos dos seus cidadãos - existe a possibilidade de um referendo sobre independência e a maior parte dos gronelandeses apoia a secessão. Num cenário hipotético de uma Gronelândia independente, gronelandeses e americanos poderiam chegar a um acordo de “associação livre” na qual os EUA suportariam economicamente a Gronelândia, e esta, em troca, daria livre-acesso militar. Caso para dizer que às vezes é preciso saber esperar pelo timing certo antes de “atacar”.

Rapidinhas

Novo contrato de concessão dá mais autonomia à gestão da RTP, autorizando-a a lançar e encerrar canais. A RTP1 deve dedicar 75% das suas emissões a programas em português e deverá manter a publicidade, que poderá acabar no futuro próximo.

A partir de quinta-feira, os bancos deixaram de poder cobrar mais pelas transferências imediatas do que cobram pelas transferências normais. As transferências imediatas poderão ficar entre € 0,45 e € 1 mais baratas.

A Toyota anunciou que está a “explorar foguetões”. A empresa fez o seu primeiro investimento na Interstellar Technologies no valor de 44,3 milhões de dólares.

A Sony apresentou o Afeela, o seu primeiro carro elétrico em parceria com a Honda . O veículo “premium” será produzido nos EUA e custará acima de 80 mil euros.

Esta terça-feira, a Meta acabou com o programa de verificação de factos do Facebook e do Instagram. A empresa vai também recomendar mais conteúdos políticos nas suas redes sociais. 

Trump não quer que sejam construídos parques eólicos nos EUA durante a sua presidência. As declarações surgem numa crítica à administração Biden que aprovou 11 projetos eólicos offshore à escala comercial. 

Sam Altman diz que a OpenAI, está a “perder dinheiro” com as subscrições pagas do ChatGPT Pro, alegando que as pessoas estão a utilizar os seus serviços muito mais do que o esperado.

NAUTA DA SEMANA
Deeep

Se o Tinder fosse um restaurante fast-food, a Deepbond seria aquele café artesanal a servir brunch com ovos moles e café forte, onde até o Wi-Fi tem mais personalidade do que as tuas DMs. Lançada no ano passado pela startup de Braga, a Deeep criou a Deepbond, uma app de dating que já conectou 3 mil almas (e talvez uns corações partidos) e gerou mais de 77 mil mensagens trocadas.

Com utilizadores em mais de 140 cidades (concentrados em Lisboa, Porto e Braga), a Deepbond quer revolucionar o amor digital. Aqui, nada de deslizar sem pensar; a app permite explorar perfis à vontade antes de decidir, e um algoritmo esperto sugere matches que realmente têm chance de funcionar. É o oposto de jogar na loteria — pois aqui tens um Barney Stinson com diploma em big data a ajudar-te.

A Caminho do Altar (ou do Expansão)?

O próximo passo? Expandir-se para os EUA, Reino Unido e França, provando que o amor português também fala inglês e francês. Para 2025, a Deeep está a preparar um "sim" importante: a sua entrada nos mercados dos EUA, Reino Unido e França. É como expandir a lista de convidados para um casamento global, mas com ainda mais romantismo. Para isso, a startup planeia a sua primeira "ronda de alianças" — ou melhor, de investimento — reforçando a equipa e garantindo um crescimento mensal de utilizadores superior a 15%. Miguel Vieira, da Deeep, descreve o feedback inicial como um "primeiro encontro perfeito". Agora, a startup quer elevar o romance e reinventar a busca pelo par ideal.

RECOMENDAÇÃO

Como obter o IRS Jovem?

Sabias que, se tens direito ao IRS jovem e pretendes beneficiar do mesmo mensalmente, tens de informar a tua empresa para o aplicar? Se o fizeres, o benefício será “descontado” mensalmente, mas caso não o faças, o valor total será reembolsado quando entregares o IRS. Este artigo explica de forma clara como podes fazê-lo, sem parecer uma aula de cálculo às 8h da manhã.

Pensa no que podias fazer com o dinheiro poupado: sapatilhas novas, bilhetes para festivais ou até aquele brunch que andas a namorar e agora até já tens a aplicação certa para saber quem levar contigo.

ABC DO DINHEIRO
Capitalismo

Capitalismo é um sistema económico baseado na propriedade privada dos meios de produção e na livre iniciativa. As empresas procuram maximizar o lucro, enquanto os preços e a distribuição de bens e serviços são determinados pelo mercado. A competição é um elemento central, incentivando a inovação e a eficiência. O papel do governo pode variar, mas geralmente inclui a regulação para assegurar a concorrência e proteger os direitos de propriedade. Na sua forma mais pura (capitalismo laissez-faire) este sistema funciona sem qualquer interferência do governo. No entanto, a maioria das economias modernas são mistas, combinando uma  economia de mercado com alguma regulamentação governamental e a propriedade pública de certos setores.

No adeus desta edição, queremos relembrar-te de que entre amores proibidos, aplicações de dating e a Mão Invisível do Mercado, o mundo dos negócios e mercados financeiros está cheio de forças misteriosas que tal como no mundo quântico são “assustadoras e funcionam à distância”… Por isso, ler a nauta é, e sempre será, uma excelente forma de navegar as incertezas desta vida!

Qualquer feedback construtivo é muito bem vindo em [email protected]!

Memes

As cotações apresentam os resultados semanais dos ativos referenciados. As quatro primeiras são índices que combinam os desempenhos de conjuntos de empresas. O PSI é o índice português, o STOXX600 é o índice das 600 maiores empresas europeias, o S&P500 e o NASDAQ são ambos dos EUA. As seguintes quatro são mercadorias e moedas. EUR/USD é o câmbio entre o euro e o dólar americano, gold é ouro, oil é petróleo bruto e bitcoin é a mais popular criptomoeda (em euros).

As quatro últimas são ações de empresas que tiveram desempenhos notáveis durante a semana. Nesta semana temos NVDA para a Nvidia, EDP para a EDP, EDPR para a EDP Renováveis e EGL para a Mota-Engil.

A nauta é um boletim informativo semanal sobre a atualidade económica, financeira e empresarial, escrita em língua portuguesa. Não é jornalismo nem consultoria financeira, mas uma oportunidade para aprofundares os teus conhecimentos nestes temas e acompanhares o essencial do mundo dos negócios e mercados financeiros.

Escrita por João Ornelas Raínho, Mário de Pinto Balsemão e Nuno Martins.