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Crash Histórico nos Mercados?
5 de Abril de 2025

Bom dia, coisinha sexy!
Nesta semana escrevemos sobre uma das maiores quedas dos mercados na História, sobre a possibilidade do Canadá juntar-se à União Europeia e sobre uma startup líder em: tremoços!?
Vamos lá!
PSI -3,79% | STOXX600 -7,51% | S&P500 -8,06% | NASDAQ -8,08% |
EUR/USD 1,30% | GOLD -2,64% | OIL -9,72% | BITCOIN 0,25% |
NVDA -10,30% | AAPL -13,27% | GALP -11,08% | EDPR -6,00% |
MERCADOS FINANCEIROS
Praça do Comércio

Donald a empurrar os mercados lá para o fundo do Grand Canyon.
Desde que Donald Trump tomou posse, os mercados bolsistas dos EUA já desvalorizaram cerca de 11 biliões (milhões de milhões) de dólares. Em 75 dias, os mercados perderam um valor superior aos PIBs nominais da Alemanha e do Japão - juntos.
Desses 11 biliões perdidos, 6,6 foram perdidos nesta quinta e sexta-feira. Esta foi a pior semana para os mercados desde o início da pandemia.
Isto é o resultado natural das novas tarifas de Trump, que até se aplicam a territórios dominados por pinguins!
Resumindo: esta quarta-feira, dia 2 de abril, foi o Dia da Libertação nos Estados Unidos da América. O que é que isso significa? Ninguém sabe!
O nome e a data foram um capricho do Presidente dos EUA para marcar na história o dia oficial em que decidiu começar uma guerra comercial contra o resto do mundo.
E não é exagero nenhum - os EUA vão mesmo aplicar uma tarifa base de 10% (em vigor a partir de hoje) a todas as importações de todos os países, salvando-se o México e o Canadá... pelo menos por enquanto!
Já para os países que, de acordo com Trump, "jogam sujo" e tarifam os EUA, as tarifas "recíprocas" serão mais altas. Como se pode observar no quadro dos "piores", a União Europeia verá aplicada uma tarifa de 20%. As tarifas recíprocas deverão entrar em vigor no dia 9 de abril.

Tarifas “recíprocas” para os países mais mal comportados, de acordo com Trump.
Resta a questão, com Trump a prometer diariamente tarifas durante a sua campanha eleitoral, porque é que os investidores nunca acreditaram? Porque é que estão chocados?
Sim, tarifas, escolhidas a dedo e com precisão, podem ser boas medidas protecionistas para diminuir desequilíbrios comerciais entre países e, ao mesmo tempo, re-industrializar certos sectores de uma economia… mas aplicar tarifas de uma só vez ao mundo inteiro é equivalente a encomendar uma recessão.
Sim, leste bem: recessão!
Já se ouviam rumores de recessão nos EUA, mas agora o banco americano J.P.Morgan diz que a chance de uma recessão até o final do ano é de 60%. Com a China a impor uma tarifa de 34% a todos os produtos dos EUA, como retaliação, a Grande Guerra Comercial está confirmada.
Sim, Donald Trump cumpriu uma das suas promessas, mas a que custo? Será que os americanos estão prontos para ressuscitar a sua indústria? Quanto tempo irá demorar essa “re-industrialização”? E até lá… será que os americanos estão prontos para pagar 2300 dólares por um iPhone?
Para os investidores a resposta a estas perguntas é sempre negativa - e daí o crash.
Resta-nos escrever sobre o último adulto com poder nos EUA, o Presidente da Reserva Federal: Jerome Powell. Neste momento está a recusar, contra a vontade de Trump, reduzir os juros.
É a decisão certa, pelo menos por agora. O Executivo dos EUA é imprevisível, logo fazer política monetária com base em caprichos não é saudável para a economia. Mais, a tarefa da Fed é controlar a inflação e manter o desemprego “baixo”. Sendo as tarifas obviamente inflacionárias, baixar os juros seria catastrófico. Powell tem apenas uma jogada: esperar para ver.
E no nosso rectângulo? Ouch! Portugal ainda faz parte do mundo e, estando na UE, tem o mesmo castigo que o resto da União. O nosso PSI tombou. É difícil prever quais serão os efeito reais destas tarifas na nossa economia… mas não vão ser bons!
ECONOMIA
Poderá o Canadá juntar-se à União Europeia?

Tarifas, má educação e ameaças de anexação aproximam o Canadá do Velho Continente.
*Suspiro* tarifas, outra vez. O “Dia da Libertação” trouxe tarifas para todos, praticamente anunciando o fim da globalização, e o regresso do protecionismo extremo. Por agora, o Canadá e o México são a excepção ao Dia da Libertação, mas já ambos eram alvos de tarifas…
E até ameaças de anexação, entre outros abusos! A reação do primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, foi veemente: anunciou oficialmente o “fim da relação tradicional” com os EUA.
Carney declarou ainda que o Canadá precisa de reduzir drasticamente a sua dependência económica com os EUA e redirecionar as suas relações comerciais, uma mudança de direção que poderá aproximar o Canadá e a UE.
A economia do Canadá depende dos EUA?
Embora o Canadá tenha uma economia diversificada e globalizada, a sua proximidade e os laços económicos históricos com os EUA tornam sua economia bastante dependente do país vizinho. Os EUA são o maior parceiro comercial do Canadá, e há um elevado grau de interdependência económica, nomeadamente nos setores automóvel, energético e tecnológico.
Tal como todos nós, o Canadá sofreu uma forte contração económica durante a pandemia. A dívida pública ainda é grande e há uma grande crise na habitação, especialmente nas grandes cidades como Toronto, Vancouver e Montreal.
Há ainda outro dado interessante. O Canadá é uma federação, composta por 10 províncias e 3 territórios com variados graus de autonomia e complexas relações comerciais. Este facto, combinado com a vasta dimensão geográfica do Canadá (é o segundo maior país do mundo) fazem com que, por vezes, seja mais fácil exportar bens e serviços para outros países do que fazer trocas comerciais internas.
Qual o objetivo de Trump?
Ler o que vai na cabeça de Trump é complicado. Ao mesmo tempo que parece fácil – o presidente norte-americano tem uma visão “zero-sum” do mundo, ou seja, que numa negociação só um lado pode ganhar, e outro perder; não há cooperação, apenas competição – por outro, as ações desta administração penalizam mais os próprios EUA e os aliados tradicionais do que os seus adversários comerciais.
As razões para as tarifas sobre o Canadá podem ser várias, desde:
Reduzir o défice comercial dos EUA com o Canadá, incentivando a produção doméstica e desencorajando as importações;
Segurança fronteiriça e combate ao tráfico de drogas, como o fentanil;
Pressão política e económica, com a intenção de enfraquecer economicamente o Canadá, possivelmente para facilitar uma maior influência ou até a anexação do país vizinho.
Poderá o Canadá virar-se para a UE?
O Canadá e a UE têm uma relação privilegiada, como aliados e parceiros comerciais.
As relações comerciais entre ambos têm-se intensificado nos últimos anos, especialmente após a implementação provisória do Acordo Económico e Comercial Global (CETA), em 2017. Este acordo visa facilitar o comércio bilateral, eliminando barreiras tarifárias e promovendo a cooperação económica. Desde o CETA, o comércio bilateral de bens e serviços aumentou 65%.
No entanto, o CETA poderá ser apenas o início de um aprofundar das relações entre o Canadá e a UE. Como antiga colónia britânica, e membro da Commonwealth (Carlos III é ainda o Rei do Canadá, no entanto sem quaisquer poderes autênticos) o Canadá e a Europa partilham muitos mais valores culturais, políticos e económicos que o Canadá e os EUA. Tanto os europeus como os canadianos valorizam o estado social, são ambientalmente conscientes e partilham valores democráticos.
E é daí que surge uma ideia “fora da caixa”, a da possibilidade do Canadá juntar-se à UE?
A entrada do Canadá traria várias vantagens para a UE:
Aumento do território sem grande impacto populacional;
Recursos naturais abundantes (energia, por exemplo);
Uma nova voz francófona (o Quebeque teria companhia);
Uma ponte para a região do Pacífico.
Também haveria benefícios para o Canadá:
Acesso a um mercado interno mais eficiente do que o seu próprio;
Exemplo europeu na redução de emissões e concorrência económica;
Fortalecimento das alianças em tempos de incerteza geopolítica.
Esta ideia até tem o apoio popular: de acordo com uma sondagem realizada este ano, 46% dos canadianos aprovariam a entrada do seu país na UE.
No entanto, esta é uma ideia que, de momento, seria legalmente impossível. O Tratado da UE limita a entrada a Estados europeus, e o Canadá, apesar das semelhanças culturais e políticas, não é considerado geograficamente ou historicamente europeu. A sua adesão exigiria uma alteração dos tratados da UE.
A ACONTECER
🤖 OpenAI aberta a investimentos: como a nauta avançou, a OpenAI levantou 40 mil milhões de dólares numa das maiores rondas de financiamento privadas de sempre, alcançando uma avaliação de 300 mil milhões. O SoftBank, a Microsoft e outros investidores ajudaram. O dinheiro vai ser utilizado para expandir a investigação em IA, melhorar o ChatGPT (talvez para gerar Ghibli Studios mais rápido) e 18 mil milhões vão para o projeto Stargate, com centros de dados nos EUA.

Rapidinhas
As receitas do ChatGPT aumentaram 30% em apenas três meses. A empresa conta com 20 milhões de subscrições pagas, que equivalem a cerca de 415 milhões de dólares em receitas por mês.
Segundo uma análise da Adecco, as tecnologias de informação, a banca, as finanças e os serviços partilhados são os setores que pagam melhor em Portugal, podendo chegar a 154 mil euros anuais. Lisboa é a região do país onde se pagam salários mais expressivos.
A Comissão Europeia vai investir 1,3 mil milhões de euros em IA, cibersegurança e competências digitais através do Programa Europa Digital (DIGITAL). Este programa visa a implementação e adoção pelas empresas e administração pública.
A Amazon revelou um novo modelo de IA, Nova Act, que pode assumir o controlo do navegador Web de um utilizador e realizar ações em seu nome, de forma semi-autónoma como se fossem assistentes digitais.
Também a Amazon fez uma proposta de última hora para comprar o TikTok, antes de ser banido nos EUA. No entanto, nada ficou decidido e Trump “esticou” 75 dias o prazo até a suspensão do TikTok.
Desde 2005, a bolsa portuguesa foi a menos rentável entre os principais mercados desenvolvidos, registando uma rentabilidade média anual de -1,3%. Este desempenho reflete a realidade do PSI, com empresas com fraco crescimento, concentração em setores pouco disruptivos e dificuldades de captação de investimento.
As universidades europeias estão a oferecer “asilo científico” aos investigadores norte-americanos que procuram escapar aos congelamentos de financiamento e às imposições ideológicas da administração Trump.
A administração Trump revogou as autorizações e derrogações que permitiam às empresas petrolíferas ocidentais operar na Venezuela.
NAUTA DA SEMANA
Tarwi
A Tarwi é uma startup de snacks à base de tremoço criada em 2021 por Catarina Gorgulho, CEO, em parceria com Pedro Godinho Ramos e Alice Trewinnard.
Originalmente registada no Reino Unido, está presente em Portugal e no Reino Unido. Em Portugal, as receitas cresceram 65% nos últimos meses, onde conta com a maior operação, produção, distribuição e equipa operacional.
A empresa pretende expandir-se para mercados onde já existe uma ligação cultural com o tremoço, tendo alcançado o primeiro investimento de cerca de 926 mil euros para chegar ao Médio Oriente já este ano.
Porquê o tremoço?
Os tremoços não só são uma das mais ricas fontes naturais de proteína e fibra do mundo, como também são naturalmente baixos em calorias e de fácil digestão.
Além disso, crescem naturalmente na Europa e são amigos do ambiente! Usam pouca água para crescer, são resistentes a pragas (não precisam de pesticidas) e possuem um papel vital no enriquecimento do solo ao adicionar biomassa. Outro fator importante, é que promovem a polinização, contribuindo para a produção de sementes e para a sobrevivência e diversidade genética das espécies!
Assim, a missão da Tarwi é reinventar o tremoço, um superalimento desaproveitado, através de produtos simples e deliciosos.
Planos para o futuro?
Com a ronda de investimento, liderada apenas pela capital de risco Homegrown Ventures, a Tarwi pretende reforçar a sua equipa para ajudar com a distribuição dos seus produtos no Médio Oriente.
O financiamento também será utilizado para continuar o desenvolvimento de produtos, que, até agora, incluem snacks, Lummus (hummus reinventado) e proteína, finalmente, para reforçar a presença em Portugal, através de parcerias com retalhistas e campanhas de marketing. Espanha e os EUA também fazem parte dos objetivos.
RECOMENDAÇÃO
É possível discordar com a chefia?
Se, tal como o nosso estagiário aniversariante, já fizeste 8 entrevistas seguidas para a McKinsey, uma empresa de consultoria estratégica, então o mais provável é teres enfrentado a questão:
“Explica-me como é que resolves desacordos e conflitos com superiores hierárquicos em contexto de trabalho?”
Não há uma resposta fácil e, para além disso, normalmente os recrutadores pedem exemplos reais.
Assim, e porque saber discordar dos teus chefes é uma capacidade essencial para sobreviver no mundo corporativo, recomendamos a leitura deste artigo da Harvard Business Review que explica como podes enfrentar esta situação - que só pode ser descrita como: “entre a espada e a parede!”
ABC DO DINHEIRO
Maldição dos Recursos Naturais
Maldição dos recursos naturais, do inglês “resource curse”, é um fenómeno económico em que os países com recursos naturais abundantes têm um desempenho económico inferior. É também conhecido como o “paradoxo da pobreza” ou “paradoxo da abundância”. Este fenómeno acontece devido ao excesso de dependência de um recurso, o que faz com que o país se torne demasiado dependente do preço da matéria-prima, o que tem consequências económicas quando existem flutuações no preço dessa matéria.
No adeus desta edição, relembramos a nossa recomendação: é possível discordar da tua chefia! Agora imagina que o teu chefe é o Presidente dos Estados Unidos da América, e que ele quer aplicar tarifas ao mundo inteiro… o que provavelmente causará uma recessão global! Se calhar o melhor é mesmo discordar e tentar evitar o Apocalipse Financeiro, não é?
Qualquer feedback construtivo é muito bem vindo em
[email protected]!
Memes



As cotações apresentam os resultados semanais dos ativos referenciados. As quatro primeiras são índices que combinam os desempenhos de conjuntos de empresas. O PSI é o índice português, o STOXX600 é o índice das 600 maiores empresas europeias, o S&P500 e o NASDAQ são ambos dos EUA. As seguintes quatro são mercadorias e moedas. EUR/USD é o câmbio entre o euro e o dólar americano, gold é ouro, oil é petróleo bruto e bitcoin é a mais popular criptomoeda (em euros).
As quatro últimas são ações de empresas que tiveram desempenhos notáveis durante a semana. Nesta semana temos NVDA para a Nvidia, AAPL para a Apple, GALP para a Galp e EDPR para a EDP Renováveis.
A nauta é um boletim informativo semanal sobre a atualidade económica, financeira e empresarial, escrita em língua portuguesa. Não é jornalismo nem consultoria financeira, mas uma oportunidade para aprofundares os teus conhecimentos nestes temas e acompanhares o essencial do mundo dos negócios e mercados financeiros.
Escrita por João Ornelas Raínho, Mário de Pinto Balsemão e Nuno Martins.