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Quedas, Recessões e Tarifas: A Novela Continua
15 de Março de 2025

Bom dia, coisinha sexy!
Esta semana ficou marcada pela queda do Governo de Portugal, com o Presidente da República a agendar novas eleições legislativas para 18 de Março. Os estagiários da nauta escrevem sobre a novela das tarifas da administração Trump, sobre rumores de uma recessão nos EUA e sobre a indústria química da UE.
Vamos lá!
PSI 0,73% | STOXX600 -1,32% | S&P500 -0,75% | NASDAQ -0,04% |
EUR/USD 0,76% | GOLD 2,63% | OIL 0,87% | BITCOIN 6,71% |
AAPL -9,40% | NVDA 10,78% | PLTR 5,74% | MSTR 11,18% |
MERCADOS FINANCEIROS
Praça do Comércio
A notícia mais importante da semana: bolsas em correção com rumores de recessão!
Podes acreditar que já estamos fartos de escrever sobre esta segunda administração de Trump (desde a primeira semana), mas é impossível não esmiuçar a Casa Branca quando os mercados estão em queda livre por causa de uma pessoa.
Tarifas e contra-tarifas são más (mais sobre isso em baixo), mas para os mercados financeiros o pior é mesmo a incerteza. E é de incerteza que esta queda se trata - incerteza à volta das promessas (e ameaças) do Presidente dos Estados Unidos da América e incerteza sobre o sucesso das suas políticas económicas.
Na verdade, os mais recentes indicadores económicos dos EUA (desemprego e inflação) foram melhores do que o esperado - o que talvez explique a sexta-feira positiva - mas nem isso acalmou os mais preocupados com a “Tempestade Trump”. Agora, depois do Nasdaq foi a vez do S&P500 entrar em zona de correção*.
Dado o extraordinário peso dos mercados bolsistas americanos no resto do mundo, os especialistas temem um “contágio”.
Sobra a questão, estamos a caminho de uma recessão?
Olho no fogão: Tesla, Tesla, Tesla, Tesla…
Em tempos uma das líderes das sete magníficas (Microsoft, Amazon, Meta, Apple, Google, Nvidia e Tesla), a Tesla está em queda livre. A resposta do CEO em apuros? Uma campanha publicitária na Casa Branca… até a barraca abana!
Bónus: ouro outra vez a bater recordes!
Já todos os leitores da nauta o sabem: em tempos de incertezas o ouro é o porto seguro universal (ao contrário das criptomoedas que estão sujeitas aos humores do Homem da Casa Branca). Como tal, o ouro finalmente ultrapassou a barreira psicológica dos 3000 dólares por onça!
O preço dos contratos contínuos de ouro, nos últimos 5 dias, em dólares.
ECONOMIA
Trump e as tarifas - a novela continua
Põe tarifa, tira tarifa. Guerra comercial? Põe tarifa, tira tarifa.
A semana ficou marcada por “negociações” intensas nas tarifas entre os EUA, o Canadá e a UE. O nosso estagiário tentou acompanhar toda a cronologia de ameaças e recuos e explica-te o que aconteceu.
Esta quarta-feira, tiveram início as tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio dos EUA.
Contudo, o dia anterior havia sido marcado por avanços e recuos entre os EUA e o Canadá. O Canadá é um dos principais fornecedores de aço dos EUA e o principal fornecedor de alumínio, fornecendo quase 60% do montante importado. Trump tinha ameaçado duplicar a taxa sobre os metais canadianos para 50%. Esta medida havia surgido como retaliação à decisão do Canadá de colocar uma taxa de 25% sobre a eletricidade enviada para três estados dos EUA, em resposta a outras tarifas americanas. Horas depois, Trump recuou na sua decisão depois de o Canadá ter concordado em suspender os encargos adicionais sobre a energia.
Nas horas que se seguiram à entrada em vigor da taxa, o Canadá e a UE anunciaram tarifas de retaliação sobre produtos importados dos EUA.
A partir de quinta-feira, o Canadá introduziu tarifas de 25% sobre importações no valor de 20 mil milhões de dólares. As tarifas impostas visam, além do aço e alumínio, computadores, equipamento desportivo e produtos de ferro fundido.
A UE anunciou um pacote de contramedidas de 26 mil milhões de euros que terá início a 1 de abril, entrando totalmente em vigor a partir de 13 de abril. As tarifas vão abranger artigos como barcos, Bourbon (whiskey norte-americano) e motas, para além de produtos de aço e alumínio, como tubos, caixilhos de janelas e folha de alumínio. As tarifas de 25% sobre o aço e alumínio europeus impostas por Trump terão um impacto de 28 mil milhões de euros. A UE prepara-se para preços mais elevados com o agravamento da guerra comercial com os EUA. Face a estas medidas, Trump ameaçou a UE com tarifas de 200% sobre champanhe, vinhos e outras bebidas destiladas se a tarifa de 50% da UE sobre o whisky norte-americano não cair.
O Reino Unido exporta aço (no valor de centenas de milhões de libras), produtos farmacêuticos, automóveis e instrumentos científicos para os EUA. Apesar de não terem sido anunciadas sanções específicas, o Governo britânico afirma estar a negociar um acordo económico mais amplo com os EUA para eliminar a aplicação de direitos aduaneiros.
Vai um resumo?
Tarifas em vigor (atualmente) pelos EUA:
Todas as importações de aço e alumínio estão a ser tributadas a 25%.
Mercadorias provenientes da China de valor superior a 800 dólares estão tributadas a 20%.
Importações não isentas do México e do Canadá estão sujeitas a uma taxa de 25%. Produtos isentos: televisores, aparelhos de ar condicionado, abacates e carne de vaca.
Tarifa de 10% sobre as importações canadianas de energia.
Trump reduziu os direitos aduaneiros sobre a potassa - um ingrediente essencial para os fertilizantes utilizados pelos agricultores norte-americanos - de 25% para 10%.
Retaliações:
China: Imposto de 10-15% sobre alguns produtos agrícolas dos EUA. Pequim também visou várias empresas de aviação, defesa e tecnologia dos EUA, impondo controlos de exportação.
Canadá: tarifas de 25% sobre importações dos EUA, incluindo aço e alumínio, computadores, equipamento desportivo e produtos de ferro fundido.
UE: pacote de contramedidas de 26 mil milhões de euros. As tarifas vão abranger barcos, Bourbon, motas, produtos de aço e alumínio.

Tarifar o Vinho Madeira é que não!
A ACONTECER
Está a faltar química
Sete países da UE fizeram o apelo para a criação de uma “lei dos produtos químicos críticos”
A França lançou um apelo aos restantes países da UE para a criação de uma “lei dos produtos químicos críticos”, à qual juntaram-se a Itália e a Espanha. Contudo, a Alemanha, o maior produtor de produtos químicos da UE, não aderiu.
O objetivo é garantir que a Europa continue a ser autossuficiente em cerca de 15 compostos químicos essenciais para a produção de produtos farmacêuticos, fertilizantes, adesivos, plásticos e detergentes.
A última proposta estabelece uma lista “provisória” de moléculas de base biológica que poderão substituir as de origem fóssil. Os investimentos em biocombustíveis, na reciclagem de plásticos e em bioplásticos também deverão constituir uma medida “estratégica”.
Rapidinhas
Esta quarta-feira, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) anunciou que o Estado financiou-se em 1.100 milhões de euros recorrendo a duas linhas obrigacionistas de 10 e 13 anos, tendo pago 3,38% e 3,63%, respetivamente.
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, voltou a criticar os bancos por não remunerarem adequadamente os depositantes. Segundo o banco central, os novos depósitos já pagam menos de 2%, enquanto a taxa de juro de depósito do Banco Central Europeu se situa nos 2,5%.
A Volkswagen vai produzir um carro elétrico low cost em Portugal, que deve chegar ao mercado com um custo de 20 mil euros. A produção terá início em 2027.
A queda do Governo vai suspender o acordo de Concertação Social, o que põe em causa os compromissos da evolução do salário mínimo nacional para 1000 euros e a redução progressiva do IRC até 2028.
A Força Aérea Portuguesa já não deverá adquirir caças de 5ª geração F-35 à Lockheed Martin, devido à revisão da posição dos EUA em relação à NATO. O Ministério da Defesa deverá procurar alternativas europeias.
O banco espanhol BBVA vai permitir aos seus clientes transacionar Bitcoin e Ethereum.
O fabricante de baterias Northvolt declarou falência na Suécia, representando um golpe para o setor europeu de baterias. As razões da bancarrota são o aumento dos custos, a instabilidade geopolítica, perturbações na cadeia de abastecimento e as mudanças na procura do mercado.
NAUTA DA SEMANA
BNI - O elevador cooperativo para o teu negócio
A Business Network International (BNI) é uma organização global dedicada a ajudar empresas a crescer através de networking estruturado e marketing de referência. Fundada em 1985 por Ivan Misner, está presente em 78 países e conta com mais de 329 mil membros.
Como Funciona o BNI?
Com base na filosofia "Givers Gain" (Quem Dá, Ganha), o BNI promove a ideia de que, ao gerar negócios para outros, os membros também recebem em retorno.Por exemplo, um carpinteiro pode recomendar um transportador de logística a clientes que precisam de entrega segura de móveis, enquanto o transportador pode indicar o carpinteiro a quem procura móveis personalizados ou reparações. Da mesma forma, um agente imobiliário pode sugerir os serviços do carpinteiro a clientes que compram casas e querem fazer renovações.
Este modelo cria um ciclo de oportunidades, onde cada membro beneficia ao ajudar os outros, fortalecendo a confiança e a colaboração dentro do BNI, e, ultimamente, gerando capital à empresa que representa.
Neste modelo de negócio, existem também reuniões semanais que seguem uma estrutura organizada,nomeadamente:
Apresentação dos negócios pelos membros.
Troca de referências qualificadas.
Formação e reforço das relações profissionais.
Este modelo de negócio permite gerar mais oportunidades de negócio (através da expansão de rede de clientes), contribui para o crescimento profissional e aumenta a visibilidade e notoriedade da comunidade empresarial regional.
Qual é a opinião da Nauta sobre o BNI?
Na terça-feira, 12 de março, a Nauta foi convidada por um membro do BNI a participar numa reunião e testemunhou de perto o funcionamento desta rede. Durante o encontro, os membros apresentaram os seus negócios, trocaram referências e fortaleceram relações. Além disso, reportaram negócios fechados na semana anterior, ou seja, transações que aconteceram com influência do BNI, seja através de referências diretas ou conversas geradas na rede. Isso reforça o impacto do networking estruturado no crescimento das empresas.
ERRATA
O texto da nauta da semana da edição de 1 de março de 2025, com foco na PFx Biotech continha dois erros.
Assim, onde se leu: “ingredientes essenciais presentes no leite materno, como glicoesfingolípidos e gangliosídeos” devia ler-se “proteínas presentes no leite materno, como a lactoferrina”. De igual modo, onde se leu: “a PFx Biotech pretende reforçar a equipa com 15 novos talentos e construir uma fábrica que” devia ler-se: “a PFx Biotech pretende reforçar a equipa”.
Pedimos desculpa pelos erros e agradecemos a Diana Oliveira, co-fundadora da PFx Biotech, que nos alertou para estas imprecisões.
RECOMENDAÇÃO
Sabes como funcionam os teus dias de férias?
Não consegues perceber como é que o Gil está sempre de férias? Em Portugal, cada trabalhador tem direito a 22 dias úteis de férias por ano. Importante notar que os fins de semana e feriados não contam para este total. Ou seja, se planeares bem, podes transformar essas 22 folgas em verdadeiras mini-férias ao longo do ano.
No ano de admissão:
Aquisição de férias: Acumulas 2 dias úteis de férias por cada mês completo de trabalho, até um máximo de 20 dias. Ou seja, se começaste em março, ao fim de 6 meses (setembro), terás 12 dias de férias acumulados.
Gozo das férias: Podes gozar as férias após 6 meses completos de trabalho. Mas atenção, não podes tirar mais de 30 dias úteis de férias no ano de admissão, mesmo que o teu espírito aventureiro assim o deseje.
Nos anos seguintes:
A partir do segundo ano, tens direito a 22 dias úteis de férias por cada ano completo de trabalho. Estes dias podem ser gozados até 30 de abril do ano seguinte.
Contratos a termo inferior a 6 meses:
Tens direito a 2 dias úteis de férias por cada mês completo de trabalho. Estes dias devem ser gozados antes do final do contrato. Portanto, nada de deixar dias por gozar, a menos que queiras oferecer férias ao Gil.
Trabalhadores a tempo parcial:
O cálculo é proporcional ao tempo de trabalho. Por exemplo, se trabalhas 50% do tempo completo, terás direito a metade dos dias de férias. Ou seja, se o Gilberto trabalhasse a meio tempo, talvez não estivesse sempre de férias!
Para simplificar o processo e planeares as tuas merecidas férias (quem sabe, para te juntares ao Gil), podes utilizar o simulador de férias disponível no Portal ACT. E já agora, aos residentes da Madeira, ainda têm direito a 2 dias de folga extra, caso queiram doar sangue!
ABC DO DINHEIRO
Zona de correção
Quando um ativo financeiro ou um índice entra em queda entre 10% e 20% em relação ao seu último pico, diz-se que entrou numa zona de correção. Normalmente, a zona de correção é vista como uma oportunidade de compra por investidores que acreditam na recuperação do mercado. Se a queda ultrapassar 20%, pode ser considerada um mercado em baixa (bear market).
No adeus desta edição, relembramos que em tempos de muita incerteza, é sempre bom ter presente uma velha máxima dos investimentos: “time in the market beats timing the market” - ou, em língua de Camões, algo deste género: “estar no mercado por mais tempo é melhor do que tentar prever o momento certo”.
Qualquer feedback construtivo é muito bem vindo em
[email protected]!
Memes



As cotações apresentam os resultados semanais dos ativos referenciados. As quatro primeiras são índices que combinam os desempenhos de conjuntos de empresas. O PSI é o índice português, o STOXX600 é o índice das 600 maiores empresas europeias, o S&P500 e o NASDAQ são ambos dos EUA. As seguintes quatro são mercadorias e moedas. EUR/USD é o câmbio entre o euro e o dólar americano, gold é ouro, oil é petróleo bruto e bitcoin é a mais popular criptomoeda (em euros).
As quatro últimas são ações de empresas que tiveram desempenhos notáveis durante a semana. Nesta semana temos AAPL para a Apple, NVDA para a Nvidia, PLTR para a Palantir e MSTR para a MicroStrategy.
A nauta é um boletim informativo semanal sobre a atualidade económica, financeira e empresarial, escrita em língua portuguesa. Não é jornalismo nem consultoria financeira, mas uma oportunidade para aprofundares os teus conhecimentos nestes temas e acompanhares o essencial do mundo dos negócios e mercados financeiros.
Escrita por João Ornelas Raínho, Mário de Pinto Balsemão e Nuno Martins.