- nauta
- Posts
- A Inflação Contra-Ataca
A Inflação Contra-Ataca
22 de Fevereiro de 2025

Bom dia, coisinha sexy!
Como escrevemos no início deste ano, o período pós-inflação será tão difícil como combater esse bicho papão. Nesta edição escrevemos sobre os desafios económicos de defender a Europa, sobre o regresso da inflação nos EUA e sobre a startup portuguesa a dar cartas na economia circular.
Vamos lá!
PSI 0,65% | STOXX600 0,092% | S&P500 -1,76% | NASDAQ -2,24% |
EUR/USD -0,19% | GOLD -0,22% | OIL -1,50% | BITCOIN 0,53% |
PLTR -13,96% | TSLA -6,32% | AMZN -5,51% | JMT 1,27% |
MERCADOS FINANCEIROS
Praça do Comércio
A notícia mais importante da semana: a inflação contra-ataca!
Como temos vindo a escrever, a inflação nos EUA está de volta e os dados são inegáveis: desde agosto de 2023 que os preços não subiam tanto, o que leva Donald Trump a acusar a antiga administração dos states.
Paralelamente, as taras e manias de Trump, em especial as tarifas, colocam ainda mais em risco a economia dos EUA. Consequentemente, são várias as organizações a trocar as apostas financeiras nos EUA por investimentos na dívida soberana europeia, considerada mais segura (pelo menos por agora).
A Europa está, portanto, ao rubro e o melhor exemplo é o setor bancário - demonstrado os maiores lucros desde 1997 e ganhos acumulados de 18% nas bolsas - mesmo num contexto de cortes nos juros (graças ao excelente trabalho do Banco Central Europeu).
Com uma população de quase 450 milhões e a inflação aparentemente derrotada, a Europa está relativamente bem posicionada para enfrentar o novo tabuleiro mundial desde que os bárbaros não passem dos portões…
Olho no fogão: e por falar em bárbaros, a Alemanha vai a eleições federais amanhã!
O resto da Europa terá de suster a respiração enquanto o “motor da economia europeia” enfrenta as eleições mais fragmentadas do milénio, num contexto de recessão pelo segundo ano consecutivo.
O pilar fundamental da economia alemã - a indústria - está cercada pelos elevados preços da energia (ao contrário do que se passa na nossa Península Ibérica, por exemplo). Além disso, as exportações alemãs serão ainda mais prejudicadas por mais uma administração de Donald Trump nos EUA e, consequentemente, um mundo mais protecionista.
Pede-se uma reforma fiscal e uma aposta na inovação, mas com Elon Musk a investir todo o seu capital político no partido da extrema-direita alemã (AfD - as sondagens atribuem uma intenção de voto a rondar os 20% - poderá duplicar o número de deputados), qualquer governo que seja formado será em coligação.
No nosso rectângulo: a Jerónimo Martins aposta na expansão internacional.
Não, não são só as nossas startups a apostar em novos mercados internacionais! A Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, irá usar a sua marca polaca Biedronka (a galinha de ovos de ouro do grupo) para “invadir” a Eslováquia.
Bónus: este ano será o ano da Ciência Quântica e os grandes avanços na área não abrandam, agora foi a vez da Microsoft apresentar um novo chip quântico que até vem com um novo estado de matéria!
PÓS-INFLAÇÃO
DOGE - Eficiência ou Inside Job?
Combater a ineficiência pode dar supremo poder a Trump.
O Departamento de Eficiência do Governo (DOGE), encabeçado por Elon Musk, tem como missão declarada “economizar milhares de milhões de dólares dos contribuintes todos os dias” ao identificar casos de fraude, ineficiência e desperdício nas agências federais americanas.
Sempre polémico, o DOGE revelou que pretende aceder a dados sensíveis da Administração da Segurança Social Americana. Musk procura potenciais fraudes e ineficiências na distribuição dos fundos sociais, um cenário que a maioria dos especialistas argumenta ser mínimo.
Quais as poupanças reais do DOGE?
Musk afirma já ter cortado a despesa do Estado em cerca de 55 mil milhões de dólares.
Segundo a Bloomberg, a redução de despesas foi de “apenas” 16,6 mil milhões, um valor distante dos 55 mil milhões avançados por Musk.
Existem várias discrepâncias entre os valores oficiais do DOGE e os valores apresentados no usaspending.gov – o portal que permite ter acesso aos gastos discriminados do governo dos EUA.
Fact-check: estará o DOGE a cumprir a sua missão?
Depende de qual é a sua verdadeira missão, pois as poupanças do DOGE podem ser “engolidas” pelo aumento da inflação. Trump anunciou planos para um “Dividendo DOGE” - entregar 20% do dinheiro poupado pelo DOGE de volta aos americanos, através de um bónus monetário - de forma semelhante ao que foi feito em 2020 e 2021 durante a pandemia.
Esta proposta poderá complicar a batalha da economia dos EUA contra a inflação elevada, que voltou a subir para 3% em janeiro.
Adicionalmente, vários economistas alertam que as prioridades económicas da administração de Trump, como as tarifas e as deportações em massa, poderão fazer disparar o preço dos bens e serviços do dia a dia - o preço dos ovos ainda não baixou.
A instrumentalização do DOGE como forma de aumentar a eficiência federal dos EUA é, no mínimo, debatível. No entanto, parece estar a cumprir outro objetivo da administração Trump: desmantelar instituições from the inside e concentrar o todo o poder nas mãos do presidente.

ECONOMIA
A defesa custa dinheiro

Há falta de consenso europeu quanto a como pagar a fatura militar.
A União Europeia está a pensar redirecionar 93 mil milhões de euros de fundos Covid não utilizados para reforçar a defesa, mas precisa da aprovação dos países membros e do Parlamento Europeu. Além disso, discute-se um financiamento europeu comum, embora a ideia de emitir dívida conjunta não agrade a países como Alemanha e Países Baixos.
Fácil é fazer as contas: o Deutsche Bank estima que a Europa precise de 800 mil milhões de euros até 2030 para atingir 3% do PIB em defesa. Atualmente, alguns países (olá, Itália, Espanha e Portugal) ainda nem chegaram aos 2% mínimos exigidos pela NATO.
O tema aqueceu numa cimeira de emergência em Paris, onde os líderes europeus debateram o apoio à Ucrânia e o receio de que os EUA deixem de se comprometer com a defesa da Europa. Trump exige que os aliados da NATO gastem 5% do PIB em defesa, um valor que está fora de questão para muitos países europeus.
No meio disto tudo, as ações de empresas de defesa (como a Rheinmetall, a Saab e a Thales) dispararam. Os investidores observam com expectativa o aumento da capacidade militar europeia.
Portugal também entrou no jogo e aderiu ao European Sky Shield, um projeto liderado pela Alemanha para criar um escudo antimíssil europeu. Mas mais uma vez, o dinheiro é um problema: a conta fica nos 500 mil milhões de euros. Países como a França, Itália e Espanha ainda não se juntaram à festa.
A ACONTECER
Rapidinhas
ALERTA NAUTA: As despesas no e-Fatura têm de ser verificadas até 25 de fevereiro. Se falhares este passo poderás receber um reembolso menor.
Segundo os dados divulgados pelo Banco de Portugal, as poupanças aplicadas nos Certificados de Aforro atingiram os 35,1 mil milhões de euros.
Existe um novo novo sistema de incentivos para startups. Os apoios, a fundo perdido, serão atribuídos em três tipos de vouchers de valor fixo de 60 mil, 30 mil e dez mil euros.
O Financial Times elegeu o Porto como melhor cidade europeia em matéria de estratégia de atração de investimento direto estrangeiro. Braga conquistou o segundo lugar entre as cidades mais pequenas.
Um grupo de empresários ligados a Vinícius Júnior comprou a SAD do FC Alverca.
Portugal é o país da OCDE onde é mais difícil comprar casa. Em dez anos, houve uma degradação de 58,33% no acesso à habitação.
Esta quinta-feira, o Banco de Portugal divulgou que o investimento português no estrangeiro aumentou 19% para 6,2 mil milhões em 2024, alcançando o valor mais elevado desde 2021.
Segundo o Banco Central Europeu (BCE), as empresas dizem enfrentar na UE o dobro da burocracia do que nos EUA. O BCE deixou o alerta para que sejam criadas novas reformas que simplifiquem as regras administrativas impostas às empresas.
Os preços da eletricidade variam muito na Europa. Em Budapeste, na Hungria, encontram-se os preços mais baixos (9,1 c€/kWh); enquanto que em Berlim chegam aos 40,4 c€/kWh. A média da UE situa-se nos 25,5 c€/kWh.
NAUTA DA SEMANA
LoopOS: a circular que realmente queremos
A LoopOS concluiu um levantamento de um investimento de 3 milhões de euros, liderado pelo Impact Innovation Fund da 3XP Global (com Beta Capital e FundBox). Este financiamento irá ajudar a expandir para Espanha e França e a desenvolver ferramentas de IA, como algoritmos de pricing. Com clientes como Decathlon e CTT, a LoopOS já evitou 20,6 toneladas de CO2 e gerou 1,5 milhões de euros em economia circular.
O que é a LoopOS?
A LoopOS é o canivete suíço da economia circular* ao permitir às empresas gerir retomas, reparações, devoluções e até alugueres de forma simples e rastreável. A sua tecnologia no-code reverse logistics (em processo de patenteamento) permite que até os menos tech-savvy implementem soluções circulares sem precisar de uma equipa de IT
Quais os planos para o futuro?
Com os 3 milhões, a LoopOS quer conquistar a Europa, focando-se em Espanha e França. A empresa vai continuar a inovar com ferramentas de IA. O CEO, João Bernardo Parreira, acredita que este é o caminho para democratizar a economia circular, mostrando que sustentabilidade e rentabilidade não são inimigas.
RECOMENDAÇÃO
Capitalismo Americano: O Culto da Riqueza
A recomendação desta semana é “Capitalismo Americano: O Culto da Riqueza”, uma série documental produzida pela RTP que examina a desigualdade nos EUA, onde 10% dos mais ricos detêm 80% dos recursos. Através de cultura, publicidade, relações públicas e filantropia, uma pequena elite perpetua o "sonho americano" desde Rockefeller até Bezos. Ao longo de 3 episódios, esta série destaca como o capitalismo excessivo pode ameaçar seriamente a democracia.
ABC DO DINHEIRO
Economia Circular
A economia circular descreve um modelo económico sustentável que busca reduzir o desperdício e maximizar o uso de recursos, promovendo a reutilização, reciclagem e regeneração de materiais. A economia circular é inspirada nos ecossistemas naturais, que funcionam em ciclos fechados. Esta abordagem permite manter produtos e materiais em uso o máximo de tempo possível. Além de minimizar o desperdício e a extração de recursos, a economia circular pode estimular a inovação, criar empregos e reduzir emissões, contribuindo para um crescimento económico dissociado do consumo excessivo de recursos.
No adeus desta edição, refletimos uma vez mais sobre os desafios que nos esperam neste período pós-inflação: reduzir défices, aumentar impostos, cortar nas despesas e aumentar orçamentos de defesa… Está na hora de teres as poupanças em dia!
Qualquer feedback construtivo é muito bem vindo em
[email protected]!
Memes


As cotações apresentam os resultados semanais dos ativos referenciados. As quatro primeiras são índices que combinam os desempenhos de conjuntos de empresas. O PSI é o índice português, o STOXX600 é o índice das 600 maiores empresas europeias, o S&P500 e o NASDAQ são ambos dos EUA. As seguintes quatro são mercadorias e moedas. EUR/USD é o câmbio entre o euro e o dólar americano, gold é ouro, oil é petróleo bruto e bitcoin é a mais popular criptomoeda (em euros).
As quatro últimas são ações de empresas que tiveram desempenhos notáveis durante a semana. Nesta semana temos PLTR para a Palantir, TSLA para a Tesla, AMZN para a Amazon e JMT para a Jerónimo Martins.
A nauta é um boletim informativo semanal sobre a atualidade económica, financeira e empresarial, escrita em língua portuguesa. Não é jornalismo nem consultoria financeira, mas uma oportunidade para aprofundares os teus conhecimentos nestes temas e acompanhares o essencial do mundo dos negócios e mercados financeiros.
Escrita por João Ornelas Raínho, Mário de Pinto Balsemão e Nuno Martins.