MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

A notícia mais importante da semana: a tempestade Trump ainda mal começou, mas a inflação está outra vez à porta!

Nesta quarta-feira saíram os novos dados do índice de preços no consumidor (IPC) nos EUA e o crescimento foi de 3% em relação a janeiro de 2024 - uma aceleração na comparação com o mês de dezembro - o que surpreendeu todos os economistas. 

Com o início do novo ano são sempre esperados aumentos neste índice em janeiro, no entanto esta aceleração põe (ainda mais) em causa o trabalho da Reserva Federal dos EUA.

O Presidente da "Fed", Jerome Powell, tem em mãos uma tarefa hercúlea: estabilizar a inflação sem destruir a economia americana. Isto é difícil por si só, mas com as já anunciadas tarifas de Trump e os seus caprichos - como baixar os juros à força - o Sr. Powell está no centro de uma tempestade sem fim à vista.

Olho no fogão: e neste caso é literalmente o olho de Deus… 

A BYD, a campeã do Partido Comunista Chinês em carros elétricos, anunciou uma nova solução que promete o chamado self-driving (do inglês, condução autónoma via IA). A God’s Eye (também do inglês, Olho de Deus) não seria grande notícia… afinal, a própria Tesla anda a prometer self-driving desde que Deus disse: “faça-se luz.”

No entanto, a God’s Eye resulta de uma parceria entre a BYD e a DeepSeek. Quando a campeã dos carros elétricos se junta com a campeã da IA a coisa é séria. As ações da BYD subiram 8,91% esta semana!

A Tesla que se cuide, porque depois de ser ultrapassada em vendas arrisca-se a ser ultrapassada em tecnologia… e continua a ser a ovelha negra das 7 magníficas.

No entanto, a Tesla pode celebrar uma outra notícia vinda da Ásia: a futura aliança entre Honda, Nissan e Mitsubishi colapsou!

No nosso rectângulo: a União Europeia, por agora, está em relativamente boas condições económicas -  graças ao bom trabalho do Banco Central Europeu a controlar a inflação - e os mercados financeiros mostram isso mesmo: o índice STOXX600, que junta as 600 maiores empresas da Europa teve nesta semana 4 dias seguidos de recordes históricos…

Ou seja, com os mercados ao rubro está na altura de umas boas Ofertas Públicas Iniciais (do inglês, Initial Public Offering - IPO). E, ao que tudo indica, será esse o próximo capítulo da novela do Novobanco: juntar-se à bolsa!

Com uma entrada em bolsa gerida por bancos como o Bank of America, Deutsche Bank e JPMorgan Chase, o Novobanco, que teve lucros superiores a 600 mil milhões de euros até setembro, promete animar o PSI em 2025.

Bónus: o ouro está outra vez a bater recordes - em tempos incertos é sempre visto como um investimento seguro…

No entanto, tempos desesperados implicam medidas desesperadas e já que escrevemos sobre o banco JPMorgan Chase porque não falar do seu novo negócio: transportar ouro de avião entre Londres e Nova Iorque?

Nós explicamos: devido às prometidas tarifas de Donald Trump, o ouro está mais caro em Nova Iorque do que em Londres. Assim, transportar ouro através do Atlântico é uma boa oportunidade de negócio para quem o conseguir vender em Nova Iorque. Mas nada é tão fácil, com a procura há uma “fila de espera” de cerca de uma semana para o ouro escondido em Londres. Esta fila resulta em atrasados que colocam os bancos numa posição vulnerável caso tenham de cumprir os contratos - o normalmente seria feito no papel - precisa de um colateral físico para evitar perdas desnecessárias…

Ou seja, os bancos transportam o ouro de Londres para a Suíça - onde as barras são refinadas para o standard americano (que é diferente do britânico) - e depois são “traficadas” para Nova Iorque da forma mais barata possível: aviões comerciais de carga!

E as quantias não são brincadeira, o JPMorgan Chase está a apontar para entregas de 4 mil milhões em ouro.

ECONOMIA

Hermanos Ibéricos vs. industriais a conta gotas

Portugal e Espanha foram duas das economias que mais cresceram na UE, em 2024.

Os dois países da Península Ibérica, Portugal e Espanha, estão ambos no top 3 do ranking de PIBs com maior crescimento no ano passado, na União Europeia. A economia espanhola apresentou o segundo maior crescimento da UE - o PIB espanhol aumentou 3,5% no quarto trimestre de 2024. Já Portugal não ficou muito atrás - o PIB português cresceu 2,7% no mesmo período.

Este crescimento, algo surpreendente, foi consideravelmente superior ao crescimento dos tradicionais motores da economia europeia, França e Alemanha. 

Quais os fatores por trás deste sucesso?

Em suma, este crescimento está a ser impulsionado pelo aumento do turismo, redução do desemprego e menores custos energéticos (em Espanha).

O grande aumento do custo da energia é um golpe fatal para as grandes potências industriais do centro da Europa, cujas empresas são obrigadas a passar o aumento do custo de produção para os seus produtos, resultando em menores margens e/ou menores vendas. Pelo contrário, tanto Espanha como Portugal nunca foram muito dependentes do gás natural russo, e apostaram mais cedo na produção de energia através de fontes renováveis - uma aposta que começa a dar frutos. 

O turismo - um dos grandes contribuidores para o PIB das economias ibéricas - voltou a explodir nos últimos anos, tal como o aumento da imigração, que fornece mão de obra mais barata e (de certa forma) compensa a fuga de jovens para outros países. A taxa de desemprego também tem vindo a diminuir em ambos os países, o que tem reflexo no aumento do consumo interno.

Será isto sol de pouca dura?

É difícil afirmar que o crescimento ibérico será sustentável a longo prazo, pois isso depende de vários fatores. Este aumento do PIB vem após longos anos de parco (ou nenhum) crescimento, e provavelmente será difícil manter estas taxas de crescimento durante vários anos.

O aumento do turismo e a imigração poderão ser problemas a curto prazo, levando a um aflorar do problema habitacional, que já era crítico, e a um aumento da desigualdade social. 

Para mais, Portugal e Espanha têm economias muito viradas para os serviços, ou seja, com empregos de baixo valor acrescentado, mantendo a produtividade laboral e os salários médios baixos. A falta de investimento será outro dos obstáculos a ultrapassar para um crescimento sustentável a longo prazo.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

A Lebre, a Tartaruga e a Inteligência Artificial

A corrida pela supremacia tecnológica continua caracterizada por superpotências contra superpotências e startups contra startups, mas e a Europa?

Todos conhecemos a fábula da Tartaruga e da Lebre. Nesta analogia, a OpenAI (em representação dos EUA) é a lebre e a DeepSeek (em representação do Partido Comunista Chinês) é a tartaruga.

Há 2 semanas, a DeepSeek mostrou que mais computação (mais chips, eletricidade e dados) não é necessariamente condição obrigatória para melhores modelos de IA. Basta mais engenho… 

Pelo menos é essa a versão da empresa chinesa. No entanto uma explicação alternativa é que a DeepSeek copiou o trabalho da OpenAI via uma metodologia chamada destilação. 

Nesta teoria, a DeepSeek beneficiou, e muito, dos avanços da OpenAI na área. Ou seja, a estratégia da tartaruga compensou porque a DeepSeek não se esforçou em treinar os modelos mais avançados e, em vez de começar do zero, copiou o melhor modelo da OpenAI.

Mas a verdade é que a aposta do Partido Comunista Chinês em IA já tem quase uma década e a jovem DeepSeek também beneficiou dos investimentos públicos na área. Com um objetivo profético de “avanços mundiais em IA no ano de 2025”, a China criou mais de 440 cursos de IA em 2022 para que as suas empresas tivessem o capital humano necessário.

Neste perigoso jogo onde liderar é dar ao adversário a hipótese de copiar, onde fica a Europa?

De acordo com a líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com a maior parceria público-privada que existe! Esta estratégia (InvestAI), que envolve fábricas gigantes para chips de IA e o mesmo estilo colaborativo  do acelerador de partículas CERN, implica que a UE deverá mobilizar até 200 mil milhões para tornar o Velho Continente competitivo na área da IA.

Não será suficiente. Sem mão-de-obra qualificada não há chocapic e atirar dinheiro aos problemas não é a forma mais eficiente de os resolver - especialmente quando a Lebre tem mais dinheiro e a Tartaruga mais talento.

STARTUPS
Elon Musk ataca OpenAI

A Lebre da Inteligência Artificial encontrou obstáculos domésticos.

Um grupo de investidores encabeçado por Elon Musk submeteu uma oferta para adquirir a organização sem fins lucrativos que é tecnicamente dona da OpenAI... 

Sim, a estrutura da OpenAI é um puzzle que nem o ChatGPT consegue resumir, mas eis a nossa tentativa: 

1. A OpenAI é uma sucursal de uma organização sem fins lucrativos, uma "Public Charity" chamada OpenAI Inc. 

2. Depois de uma ronda de investimento de 6,6 mil milhões liderada pela Microsoft, que avaliou a OpenAI em 157 mil milhões de dólares, a "empresa" fez o compromisso de se tornar uma empresa para fins lucrativos, separando-se da dona sem fins lucrativos até 2026. 

3. A próxima ronda de investimento liderada pela Softbank está a apontar para uma avaliação da OpenAI entre 240 a 300 mil milhões de dólares. 

Neste contexto, o grupo liderado por Elon Musk e com o peso da sua própria startup de IA, a xAI, procura adquirir a organização sem fins lucrativos dona da OpenAI, por 97,4 mil milhões - um valor muito abaixo das mais recentes avaliações da sucursal. A oferta serve para colocar ainda mais obstáculos na conversão da OpenAI numa empresa com fins lucrativos.

A proposta já foi oficialmente rejeitada.

Rapidinhas

A startup luso-britânica Noxus angariou 1,5 milhões de dólares em fase pré-seed para expandir a sua plataforma de "colaboradores de IA" — aqueles colegas que nunca tiram férias. Já tem contratos na saúde, finanças e retalho. O investimento foi liderado pela SFC Capital, com apoio de vários investidores visionários.

Esta quarta-feira, a Agência de Gestão de Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) realizou três leilões de dívida através de três linhas obrigacionistas a 9, 17 e 27 anos, que permitiram ao Tesouro financiar-se em 1.496 milhões de euros.

Segundo o Financial Times, a Comissão Europeia está a considerar impor limites aos preços do gás natural no bloco, de forma temporária.

O Governo espanhol prepara-se para impor uma tributação de 100% nas aquisições de imóveis por parte de compradores que não sejam cidadãos de países da UE. Outros países europeus podem seguir esta tendência.

Trump e Putin vão iniciar as negociações sobre as possibilidades de alcançar a paz na Ucrânia. Como compensação pelo apoio à Ucrânia, Trump exige 500 mil milhões de dólares em “terras raras”.

É esperado que, a curto prazo , os EUA comecem a aplicar tarifas recíprocas sobre os parceiros comerciais, e sobre a indústria automóvel do Japão, Alemanha e Coreia do Sul.

A República Centro-Africana lançou uma memecoin*, depois de ser o segundo país do mundo a adotar a  bitcoin como moeda legal. Segundo o Presidente Faustin-Archange Touadera, esta é uma tentativa de elevar o perfil económico de um dos países mais pobres do mundo.

NAUTA DA SEMANA
EVIO

Se a EVIO fosse uma estação de carregamento, seria aquela que tem sempre um lugar livre, Wi-Fi grátis e um café que não sabe a água de batatas. A startup de Matosinhos, que já tínhamos destacado numa primeira ronda de investimento, acaba de carregar as baterias com mais 5 milhões de euros, desta vez liderados pela HCapital e Lince Capital. O objetivo? Expandir a plataforma de gestão de carregamento de veículos elétricos e continuar a eletrificar o mercado da mobilidade.

Carlos Almeida, CEO da EVIO, está com mais energia do que uma Powerbank num festival de verão: este financiamento reflete a confiança dos investidores no modelo de negócio e na visão para o futuro da mobilidade elétrica. E com razão: a startup já lançou funcionalidades como a localização de postos de carregamento com a melhor relação custo-benefício. É o Waze dos carros elétricos, mas sem aquela voz irritante a dizer "recalculando".

Num carregamento próximo:

A EVIO quer expandir-se internacionalmente e reforçar a equipa. Afinal, o futuro é elétrico, e a empresa está a garantir que não fica sem bateria a meio da viagem. Quem sabe, talvez daqui a uns anos estejam a carregar carros em Marte. A EVIO parece pronta para essa missão.

RECOMENDAÇÃO

Chama-lhe Meeting Hangover!

Depois de uma reunião caótica, ficas com a cabeça a mil e a disposição a zero, como se tivesses passado a noite na poncha com o tio Alberto na Venda do Sócio, no fortimel com o Presidente da República, nas maladas de Grogue com o Arruda, ou ainda sardinhada  com o Rui Rio na festa de São João? 

Este artigo da Harvard Business Review revela o custo oculto das reuniões mal geridas, que drenam a tua energia e derrubam o foco que já estava escasso. Descobre truques práticos para evitar esse desgaste mental e tornar as reuniões mais produtivas. A tua sanidade vai agradecer – e o teu rendimento, mais ainda! 

ABC DO DINHEIRO
Memecoin