MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

A notícia mais importante da semana: Trump mais perto de demitir o Presidente da Reserva Federal?

A Reserva Federal dos Estados Unidos da América, Fed para os amigos, tem como objetivo principal a estabilização da inflação à volta dos 2% ao ano (e, ao mesmo tempo, controlar o desemprego). É esse o “mandato” do seu Presidente, Jerome Powell. Para alcançar essa meta, as únicas ferramentas da Fed, e do seu Presidente, são as taxas de juro (aumentar ou baixar, consoante as circunstâncias) e o diálogo.

Ora bem, como temos escrito nas últimas edições da nauta, Trump quer livrar-se de Jerome Powell. Porquê? Porque as tarifas de Trump assustam os mercados financeiros e resultam numa maior inflação. Sendo o corte das taxas de juro a melhor maneira de acalmar as bolsas e reduzir a inflação, Trump quer que Jerome Powell reduza os juros de acordo com as políticas da Casa Branca…

O problema é que a Reserva Federal, supostamente, é independente. 

No entanto, nesta semana surgiram novos rumores de que Trump quer demitir Powell. Mas como?

Bem, a resposta é complexa e diz mais respeito à área legal do que à área financeira… Eis o resumo: a sede da Fed em Washington está atualmente em renovações que custam cerca de 2,5 mil milhões de dólares e, de acordo com a administração de Trump, este pode ser o ponto fraco de Powell para um despedimento por justa causa via fraude. 

Será, sem dúvida, difícil provar justa causa quando os objetivos da Fed não têm nada a ver com renovações, por muito caras que sejam. O próprio Trump diz que é extremamente improvável despedir Powell.

Mas o que diz Trump, ninguém escreve. E onde há fumo, há fogo. Para os investidores é importante pensar em como será um mundo sem uma Fed independente de Trump, pois Jerome Powell é o último adulto com poder nos Estados Unidos da América.

Por agora, os mercados começam a habituar-se às tarifas de Trump.

Continua a “Época de Transferências” da IA: pagos a preços de ouro, os melhores engenheiros informáticos do mundo já valem mais que jogadores de futebol!

Como escrevemos há duas semanas, as gigantes tecnológicas estão a gastar “mundos e fundos” para contratar os principais especialistas em Inteligência Artificial. Por exemplo, a NVIDIA fez parte de uma ronda de investimento seed (2 mil milhões de dólares) na nova startup Thinking Machines Lab de Mira Murati, antiga CTO da OpenAI, agora avaliada em 12 mil milhões de dólares. A empresa ainda não tem produto.

Por outro lado, o negócio da OpenAI com a Windsurf (uma startup de programação via IA) ruiu. Ou melhor, a Google roubou o “negócio” à OpenAI. Com 2,4 mil milhões de dólares - o suficiente para renovar alguns edifícios - a Google contratou os melhores talentos da Windsurf (incluindo o CEO) e alcançou licenças não exclusivas para o uso de certas tecnologias desenvolvidas pela empresa. Também a SpaceX de Elon Musk vai investir na empresa de IA de Elon Musk, a xAI.

É caso para dizer: o Gyökeres estaria melhor a programar do que a marcar golos.

Olho no fogão: Robotaxis? E que tal preços mais baixos?

A Tesla, de Elon Musk, lançou recentemente os robotaxis prometidos há anos. São, essencialmente, Teslas que se conduzem sozinhos. Como não podia deixar de ser, a competição foi atrás e a Uber já tem o seu próprio “programa”.

Não há nada de errado em desenvolver novas tecnologias, muito pelo contrário. O autor deste texto até acredita que os robotaxis são boa ideia (pelo menos no longo prazo). Mas do ponto de vista dos mercados livres… o que o setor dos carros elétricos precisa é bem mais simples do que tecnologias futuristas: preços mais baixos.

A chinesa BYD ultrapassou a Tesla com… preços mais baixos. Uma estratégia que a nauta previu há mais de 1 ano. Embora o mundo ocidental tenha dificuldades em aceitar a estratégia da BYD (que tem o apoio do Partido Comunista Chinês), a verdade é que funciona. De que servem robotaxis se ninguém os quer pagar?

Bónus: esta foi a semana crypto da Casa Branca… o resultado, por agora, será pelo menos uma nova legislação e outro recorde para a bitcoin!

ECONOMIA

A Cenoura e o Pau

A UE prepara uma resposta firme caso as negociações com Trump falhem.

As negociações comerciais entre a UE e os EUA continuam, com a data crucial de 1 de agosto a aproximar-se cada vez mais. No primeiro dia de agosto, as tarifas de 30% impostas por Trump entram em vigor, e embora seja possível que o líder norte-americano volte atrás no bluff, ninguém que apostar no que vai na cabeça do Mr. President.

A Comissão Europeia (CE) está a considerar uma abordagem de "pau e cenoura" nas negociações: oferecer acesso facilitado ao mercado europeu para serviços digitais ("cenoura"), enquanto ameaça com tarifas sobre esses mesmos serviços ("pau") caso não se alcance um acordo.

O comércio bilateral de serviços entre a UE e os EUA atingiu 816,9 mil milhões de euros em 2024, comparável ao comércio de bens, e com um crescimento superior. Os serviços digitais, como os oferecidos por gigantes como Google, Microsoft e Meta, representam uma parte significativa deste comércio. A inclusão dos serviços digitais nas negociações pode proporcionar à UE uma alavanca adicional para reduzir o impacto das tarifas americanas e promover um comércio mais equilibrado entre os dois blocos económicos.

E se a cenoura falhar…

O “pau”, ou a retaliação caso as negociações falhem está a dividir os europeus. A CE está a elaborar uma lista de possíveis contramedidas, que incluem taxas sobre serviços norte-americanos no valor de 72 mil milhões de euros, bem como controlos de exportação. Esta lista inclui aeronaves da Boeing, dispositivos médicos, automóveis, vinhos e outros produtos agrícolas, como medida de pressão e proteção dos interesses comunitários.

A França vai mais longe, e está a reunir apoios para ativar o Instrumento Anticoerção Económica (ACI) caso as partes não cheguem a acordo até ao dia 1. A ativação do ACI permitiria à UE avançar com contramedidas como a imposição de tarifas, restrições ao comércio de serviços, e aspetos relacionados com o comércio de direitos de propriedade intelectual, além de restrições ao acesso a investimento estrangeiro direto e compras públicas. Este instrumento, que já conta com algum apoio, exigiria a aprovação unânime dos 27 países da UE, o que representa um desafio significativo.

Entretanto, as empresas europeias estão a exigir à CE celeridade no acordo comercial com o Mercosul (do qual já falámos aqui), visto ser uma alternativa fundamental às exportações para os EUA.

EUROPA

O novo Orçamento Europeu

A proposta revolucionária para os próximos 7 anos.

A Comissão Europeia apresentou uma proposta histórica para o Quadro Financeiro Plurianual (QFP) de 2028-2034, com um orçamento de 2 biliões de euros, representando 1,26% do Rendimento Nacional Bruto da UE. O objetivo é tornar o orçamento mais estratégico, flexível e transparente, abordando desafios como defesa, competitividade global e sustentabilidade.

A proposta introduz uma “nacionalização” dos fundos, substituindo programas europeus fragmentados por planos nacionais, melhorando a gestão dos recursos. A agricultura sofrerá um corte de 22% nos fundos, centralizando-os nos governos nacionais. A nova estrutura destina 865 mil milhões de euros para coesão e políticas sociais, 410 mil milhões para ciência e inovação, e 131 mil milhões para defesa. Também há um aumento significativo no apoio à Ucrânia e um fundo de 400 mil milhões para crises.

Este orçamento prevê a criação de novos recursos, incluindo um imposto sobre lucros de grandes empresas. Contudo, países como a Alemanha já manifestaram críticas quanto ao aumento da despesa e dos impostos sobre as empresas, antecipando duras negociações entre Estados-membros antes da aprovação final do QFP.

Para Portugal, a UE propõe “mandar” 33,5 mil milhões de euros.

Rapidinhas

O Parlamento aprovou a descida do IRS, entre 0,4% e 0,6% até o 8º escalão, para este ano e uma baixa adicional de 0,3% em 2026.

Em Setembro, os pensionistas irão receber uma apoio extraordinário (único) de até 200 euros. Este apoio não estará sujeito a retenção na fonte.

A inflação na Zona Euro subiu para 2% em junho, regressando ao objetivo do Banco Central Europeu, apontam os dados do Eurostat.

Esta terça-feira, a Indonésia e os EUA fecharam um acordo comercial que prevê a aplicação de uma tarifa de 19% sobre as importações norte-americanas de produtos provenientes da Indonésia. As exportações norte-americanas para o país não serão tributadas.

O Governo francês anunciou que no próximo ano haverá um corte radical da despesa para combater a dívida pública. As pensões e os aumentos da função pública serão congelados, sendo que o orçamento da Defesa é o único que subirá.

Esta sexta-feira, a UE aprovou o 18.º pacote de sanções contra a Rússia por causa da invasão à Ucrânia, que limita o acesso de bancos russos a financiamento e pretende banir os gasodutos.

A Câmara dos Representantes aprovou a primeira lei dos EUA de regulação das moedas digitais e de regulamentação para as stablecoins, moedas digitais cujo valor está indexado a moedas clássicas.

NAUTA DA SEMANA
SkillUp

A SkillUp, edtech global com ADN tecnológico e um centro de I&D em Portugal, acaba de levantar 6 milhões de euros numa ronda Série A liderada pela Explorer Investments, com participação da FundBox. O objetivo é expandir a operação global, contratar talento nacional e continuar a revolucionar a aprendizagem online — sem tortura de slides nem promessas de aprendizagem que morrem na praia.

💡 O que faz a SkillUp?

Com presença nos EUA, Índia e Portugal, e clientes como IBM, Microsoft e Google, a SkillUp combina inteligência artificial, machine learning e mentoria humana para criar experiências de aprendizagem verdadeiramente personalizadas. A sua tecnologia adapta os conteúdos em tempo real, com interatividade elevada e foco total na progressão do aluno. O resultado impressiona: uma taxa de conclusão de 67%, muito acima da média do setor, que ronda os 8%.

🚀 Porquê Portugal?

Depois de inaugurar um hub de I&D em 2024, a SkillUp vai contratar 50 novos talentos até 2028, reforçando Portugal como um polo estratégico de inovação educativa. A missão passa por desenvolver soluções de aprendizagem end-to-end que combinem tecnologia de ponta com impacto humano — porque aprender nunca sai de moda… mas pode (e deve) sair do século passado.

RECOMENDAÇÃO

Liderar geeks sem perder a cabeça (nem o projeto)

Ser gestor de techies não é só saber o que é o Jira. Este artigo do MIT Sloan Management Review, How to Lead Tech Professionals and Teams, mostra como lidar com mentes brilhantes que acham que as regras não se aplicam a eles — e às vezes têm razão.

Fala-se de estabelecer papéis claros (sem matar a criatividade), dar feedback regular (não só no fim do ano), combinar perfis diferentes, perceber o que realmente motiva cada pessoa e, acima de tudo, equilibrar autonomia e colaboração como quem segura nitroglicerina com luvas de lã.

Se estás a liderar (ou a ser liderado por) engenheiros, developers ou cientistas com ideias grandes e horários estranhos, este guia é leitura obrigatória.

ABC DO DINHEIRO
TANB