MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

A notícia mais importante da semana: o bis de Powell!

Como adiantámos na semana passada, nesta sexta-feira deu-se o discurso mais importante do Presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos da América, Jerome Powell.

Eis o nosso resumo:  o Presidente da Fed sinalizou que está a preparar-se para cortar nas taxas de juro norte-americanas. O dilema é encontrar o equilíbrio entre a inflação causada pelas tarifas de Trump e as suas políticas anti-imigração que prejudicam o mercado de trabalho. Ou seja, se a Fed cortar as taxas de juro irá ajudar o mercado de trabalho a recuperar, mas aumentará também a inflação… 

Mais do que acertar no timing dos cortes nas taxas de juro, o verdadeiro desafio de Jerome Powell é cimentar a independência do banco central dos EUA num período marcado por caos político, incerteza económica e de recuperação pós-pandemia. 

Com este discurso, Powell parece estar no bom caminho para fechar o seu mandato (que termina em maio de 2026) em grande. A questão é: será suficiente para a Fed sobreviver às próximas nomeações de Trump?

Por agora, os mercados rejubilam com os cortes “prometidos”. O dia acabou com o S&P500 a subir 1,5% e o NASDAQ 1,9%, quebrando uma sequência de dias vermelhos. Escusado será dizer que todos os investidores sonham com um bis de Powell!

Olho no fogão: Palantir — quem te avisa, teu amigo é!

Na semana passada escrevemos um pequeno artigo a argumentar que a Palantir, uma empresa ofuscada por secretismo e manchada por gerir dados para a vigilância estatal via Inteligência Artificial, estava sobrevalorizada na bolsa. Ao longo desta semana a ação escorregou -9,5%. Para além da sobrevalorização, a ação poderá ter seguido a tendência das empresas de defesa que foram prejudicadas com o potencial acordo entre a Ucrânia e a Rússia.

No que toca à misteriosa Palantir, em breve teremos um barómetro para analisar esta empresa…

Olho no fogão II: bolha na Inteligência Artificial?

Na semana passada, Sam Altman, o CEO da OpenAI, sugeriu que a indústria da Inteligência Artificial pode estar numa bolha…

Quem diria que, com a Meta, dona do Facebook e Instagram, a oferecer contratos de 250 milhões a especialistas de IA com 24 anos, e a OpenAI com perdas de 5 mil milhões em 2024 (e as perdas continuam em 2025), a indústria da IA está numa bolha?

Sendo uma bolha ou não, o nosso aviso à navegação é que deve-se sempre ter cuidado ao prever a rebentação de bolhas nos mercados. O timing nas bolsas é sempre traiçoeiro e os mercados financeiros podem permanecer irracionais durante mais tempo do que a tua carteira aguenta.

Por isso, olho no fogão e segue a estratégia do CEO da OpenAI: prepara-te para todos os cenários! Se quiseres ler sobre as falhas estruturais da IA, pode ler este nosso artigo do ano passado!

O Estado Daddy: Intel, a nova empresa estatal?

Como parte de um plano para fortalecer a indústria dos semicondutores (essenciais para a IA) dos EUA, a Administração de Trump tornou-se a maior acionista da Intel, a única empresa norte-americana capaz de produzir semicondutores avançados. Assim, com 10% da Intel, o Governo dos EUA está cada vez mais ousado na sua subjugação da chamada corporate América.

Também a SoftBank irá investir 2 mil milhões de dólares na Intel.

FINANÇAS PESSOAIS

Vem poupar, tu poupas bem.

O Governo quer trazer planos de poupança tipo 401(k) para Portugal.

O que é um 401(k)?

O 401(k) é um plano de reforma privado que é muito comum nos Estados Unidos da América. Funciona da seguinte forma: uma empresa oferece a opção de teres parte do teu salário descontado e automaticamente investido em ativos financeiros* (o portfólio de ativos varia de empresa para empresa). Muitas empresas oferecem ainda o matching, ou seja, contribuem com um valor adicional proporcional ao que tu descontas (ex.: tu pões 5%, a empresa põe mais 5%).

Diferenças para com os nossos sistemas de poupança?

Em Portugal, os ativos financeiros mais parecidos com um 401(k) são os Planos Poupança Reforma (PPRs). Ambos são planos regulares que investem parte dos teus rendimentos em ativos financeiros, no entanto existem diferenças cruciais. Enquanto que ao investires num PPRs, fá-lo-ás de forma voluntária, alguém com um 401(k) vê parte do seu salário automaticamente descontado todos os meses. Além disso, o matching, a tal contribuição que a empresa faz em teu nome, duplica o teu investimento mensal. 

Existem ainda diferenças fiscais, que podem ser relevantes. O investimento em PPRs pode ser deduzido em IRS (com limites), e existem penalizações se resgatares o dinheiro mais cedo do que o previsto. Os 401(k) estão normalmente isentos de imposto ao descontar (401k tradicional), ou no resgate (Roth 401k).

Um 401(k) à portuguesa?

Antes de mais convém realçar que este tipo de planos de reforma privados não visam substituir a Segurança Social (SS), pelo contrário, serão apenas um complemento adicional para a tua reforma. Também não serão obrigatórios, e continuarás a descontar mensalmente para a SS. 

As especificidades do 401(k) tuga estão, ainda, envoltas em mistério, pelo que ainda não conseguimos perceber o modo de funcionamento e o enquadramento fiscal. Não obstante, serão bem-vindos como mais uma arma de combate à fraca taxa de poupança dos portugueses - somos o país com a mais baixa taxa de poupança da Zona Euro.

ECONOMIA

A penalização da maternidade: o impacto nas finanças das mulheres

A nossa estagiária escreve sobre um fenómeno que afeta a carreira das mulheres.

A maternidade pode ser um divisor de águas na vida financeira das mulheres. A penalização da maternidade é um dos principais motores da desigualdade salarial entre homens e mulheres e tem implicações profundas para o bem-estar financeiro e no planeamento de carreira a longo prazo.

Contrastando com os homens, cujos salários tendem a aumentar, as mulheres raramente recuperam o ritmo de crescimento salarial que tinham antes do nascimento dos filhos. Segundo a análise de Corinne Low, professora de economia e políticas públicas da Wharton School, ter filhos gera uma penalização significativa nos rendimentos das mulheres: ao se tornarem mães, enfrentam uma queda imediata e persistente nos seus salários.

A chegada dos 30 traz uma sensação de falta de tempo, entre o ter e o fazer tudo — a maternidade bate à porta, a sensação de realização a nível profissional, conciliar a carreira com os filhos e tarefas domésticas torna-se um desafio… Corinne Low apelida esta fase de “o aperto”.

As crescentes expectativas sobre a parentalidade, a valorização do tempo passado com os filhos, a maior dificuldade na conciliação entre responsabilidades familiares e profissionais, e interrupções na carreira, acabam por apenas penalizar profissionalmente as mulheres.

Enquanto algumas mulheres optam por mudar para empregos menos exigentes e com salários mais baixos, ou até abandonar o mercado de trabalho, outras continuam a trabalhar, mas enfrentam menos oportunidades de promoção, mesmo com qualificações e experiência comparável à dos homens. Vários estudos mostram que as empresas dão menos promoções às mulheres, mesmo às que não têm filhos, para evitar custos com possíveis licenças de maternidade.

Após a fase do aperto e com o crescimento dos filhos, vem o que Low apelida de “alívio irónico”: muitas mulheres têm dificuldade em recuperar o seu espaço no mercado de trabalho e igualar os rendimentos dos homens.

A penalização da maternidade é um fenómeno global que se reflete também na taxa de empregabilidade das mulheres após serem mães. Países com políticas de licença parental e outros apoios governamentais ajudam a manter as mães empregadas. 

A ACONTECER

🚀💎 Um futuro brilhante - A Bright Pixel, braço de investimento em risco da Sonae, voltou a apostar na norte-americana Keychain, ao participar numa ronda Série B de 30 milhões de dólares. A startup de Nova Iorque, fundada em 2023, está a lançar o KeychainOS — um sistema operativo com IA para otimizar a indústria de packaging. Com clientes como Whole Foods e General Mills, a Keychain soma já 68 milhões captados.

Rapidinhas

Segundo o Banco de Portugal, o excedente externo da economia portuguesa caiu para 2.265 milhões de euros até junho, o que equivale a 1,6% do PIB semestral. A redução do excedente reflete um crescimento das importações e um decréscimo das exportações.

Os salários de agosto já vão refletir as novas tabelas de retenção na fonte do IRS.

A inflação na UE subiu para 2,4% em julho. Portugal registou uma taxa ligeiramente superior, de 2,5%.

A DHL vai limitar temporariamente o envio de encomendas da Alemanha para os EUA, devido às novas tarifas alfandegárias.

Os EUA estenderam as tarifas de 50% sobre aço e alumínio a mais de 400 produtos, incluindo agora extintores de incêndio, máquinas agrícolas e turbinas eólicas, entre outros.

O Banco Central Europeu (BCE) prevê um abrandamento do crescimento económico na Zona Euro no atual trimestre.

NAUTA DA SEMANA
Unbabel

Unbabel fala agora fluentemente “scale-up”.

Depois de 13 anos a provar que a tradução automática não tem de soar a “Google Tradutor em 2009”, a portuguesa Unbabel foi adquirida pela norte-americana TransPerfect, a maior empresa de tradução do mundo.

O negócio (valor não revelado) dá à Unbabel aquilo que mais faltava: acesso imediato a uma força de vendas global e a milhares de clientes corporativos. Ou seja, a startup que nasceu em Lisboa vai ter finalmente escala para levar a sua tecnologia de tradução automática a todas as áreas de uma empresa — do suporte ao cliente até às operações.

A marca Unbabel continuará viva, como uma business unit dentro da TransPerfect, e a vasta maioria da equipa mantém-se, incluindo o cofundador e CEO Vasco Pedro. Para já, não há planos de fazer desaparecer o nome e Vasco já avisou que o futuro dele será sempre de builder.

Se antes o estatuto de unicórnio era “teatro”, como o próprio dizia, esta aquisição é a verdadeira peça: menos sobre rótulos, mais sobre impacto real. No fim, a Unbabel não foi apenas comprada, ganhou um megafone global para provar que IA e humanos, juntos, falam a mesma língua.

RECOMENDAÇÃO

Emails às 23h?

Só se fores noturnal porque caso contrário, até os vampiros ficam chocados…

Desligar depois do trabalho não é luxo, é lei. Este artigo do Observador, Direito a desligar: Quais as regras?, explica quando é que o chefe pode (e não pode) ligar-te fora de horas. 

Fala-se do reforço do Código do Trabalho, das exceções de “força maior” (do género “houve um terramoto”, não “esqueci-me do Excel”) e das multas pesadas para empresas que não as respeitem. Se já recebeste emails às 23h, este guia é leitura obrigatória e é válido para tod@s: remoto, híbrido ou presencial.

Uma exceção? Se trabalhas por turnos noturnos… aí os emails às 23h contam como “bom dia”’.

ABC DO DINHEIRO
Ativo financeiro