MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

O dia 2 de abril, Dia da Libertação nos Estados Unidos da América, alterou para sempre o percurso dos mercados livres e do comércio internacional.

O que se segue?

Mais uma vez, ninguém sabe - nem o próprio Donald Trump que nesta semana anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas à maioria dos países “atacados”, baixando o castigo para “apenas” 10%. A grande exceção é a China, que retaliou à retaliação (as duas super-potências estiveram a semana toda nisto)!

Terá a tal Libertação sido adiada? Ou será que a Libertação era referência aos mercados financeiros estarem completamente libertados de qualquer racionalidade que poderia restar?

É que, surpreendentemente, os mercados passaram de um crash histórico com rumores de múltiplas margin calls* para uma cavalgada histórica com a NVIDIA a valorizar quase 27% numa semana e até a nossa EDP Renováveis a valorizar 8,83%!

Pelo meio disto, um rumor virou notícia falsa viral e catapultou os mercados para ainda mais caos. Fica aqui um resumo cronológico:

1. Na segunda-feira, pelas 11:30 da manhã, hora de Lisboa, o Diretor do Conselho Nacional de Economia dos EUA, Kevin Hassett, disse em entrevista à Fox News: "O presidente vai decidir o que o presidente vai decidir." Uma resposta vaga à pergunta "se Trump iria considerar uma suspensão de 90 dias nas tarifas"...

2. Às nossas 13:11, uma conta de twitter com pouco mais de 1000 seguidores anunciou que Trump iria considerar uma pausa de 90 dias.

3. Às nossas 13:12 a praça da Bolsa de Nova Iorque animou - a tendência tinha-se invertido e começaram festejos.

4. Às 13:13 uma outra conta de twitter, com mais 800 mil seguidores, fez copy-and-paste do tweet original. Às 13:15 o rumor já era notícia (falsa), em direto, na CNBC.

5. Às 13:19 era a vez da Reuters citar a CNBC, propagando a notícia falsa. Eventualmente a Casa Branca negou tudo e as coisas acalmaram. Entretanto as bolsas ganharam milhões de milhões, voltaram a perdê-los e nada de fundamental mudou.

Mas… a meio da semana o rumor, que virou notícia falsa viral para ser eventualmente negada pela Casa Branca, acabou por ser anunciado por Donald Trump!

A pausa anunciada fez disparar os mercados e, para além daqueles com informações privilegiadas sobre as loucuras de Trump, desta vez o mundo todo teve um aviso que era “boa altura para investir” - e não, não foram os influencers financeiros que tentam vender cursos manhosos no Instagram, foi o próprio Donald Trump!

ECONOMIA

Reforços no mercado pós-inverno

A resposta de Montenegro aos negros mercados.

O Governo português anunciou o Programa Reforçar, um pacote de 10 mil milhões de euros para apoiar empresas afetadas pelas tarifas impostas pelos EUA.

Do total, 8,6 mil milhões serão disponibilizados em linhas de crédito pelo Banco Português do Fomento (BPF). Deste valor, 5 mil milhões virão do reforço das linhas BPF Invest EU, enquanto 3,5 mil milhões destinam-se à nova linha BPF Invest Export PT, focada em exportações.

Para apoiar a internacionalização, haverá um reforço dos plafonds disponíveis para seguros de crédito em 1.200 milhões de euros. Ainda nesta vertente, os programas coletivos, que permitem às empresas ir a mais feiras, aceder a canais digitais e ações de promoção, também serão reforçados.

Adicionalmente, 2.640 milhões de euros, provenientes de concursos do Portugal 2030 e do PRR, serão antecipados para apoio imediato às empresas.

O Ministro da Economia, Pedro Reis, assegurou que estas medidas não prejudicarão o equilíbrio das contas públicas. As iniciativas entram em vigor entre maio e junho e estão disponíveis para todas as empresas com sede em Portugal, nacionais ou estrangeiras, independentemente da evolução das negociações entre a UE e os EUA.

BARÓMETRO DO SUCESSO

UpHill Health

Dados + Software de Otimização. Esta é a receita médica para os Sistemas de Saúde europeus.

A UpHill Health, uma healthtech portuguesa com ideias ambiciosas para transformar os cuidados de saúde na Europa, está a liderar um projeto que pretende ligar (pela primeira vez!) os sistemas de dados de saúde entre 12 países da UE. Estamos a falar do i2X, um projeto com um financiamento de 8 milhões de euros pela Comissão Europeia, que visa a partilha de registos de saúde de forma mais eficiente além-fronteiras.

O que é a UpHill?

A UpHill, já destacada numa edição anterior da nauta, é uma startup fundada em 2015 por três médicos (pessoal que sabe o que é uma urgência por dentro). A empresa desenvolve software e conteúdos médicos para a otimização de jornadas de cuidados em instituições de saúde. Com presença sólida no setor hospitalar ibérico e colaborações com multinacionais farmacêuticas europeias, procuram otimizar a alocação de recursos e facilitar a adoção de boas práticas médicas.

Além de um projeto de I&D no valor de 1 milhão de euros, a empresa já conta com três rondas de investimento que totalizam 11,1 milhões de euros (a última das quais destacada pela nauta quando concluíram um investimento série A de 7M€ em 2024). De acordo com a Dealroom, a startup terá uma avaliação entre 31 a 46 milhões de euros!

E o tal projeto europeu?

O i2X quer garantir que os registos de saúde digitais funcionam bem em qualquer país da UE. A ideia é simples (mas nada fácil): criar um formato único de dados clínicos, reduzir erros, duplicações de exames e tempos de espera. Serão 35 projetos-piloto distribuídos pelos 12 países participantes em áreas como a prescrição eletrónica, imagem médica e dados de análises e exames.

Com mais de 8 milhões de euros em investimento, financiados pela Comissão Europeia, e resultando num benefício direto para mais de 3 milhões de cidadãos europeus, o projeto pretende melhorar até 80% a disponibilidade de informações estruturais de alta qualidade.

Em Portugal, será implementado na Unidade Local de Saúde de Coimbra e no Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM).

A ACONTECER

💅🏼 Alerta NAUTA: se pediste à tua entidade empregadora para fazer retenção na fonte com base no regime do IRS Jovem, tens de assinalar a adesão a este regime na declaração de 2024 ou terás de repor a totalidade do imposto.

👛 Anda guardar, tu guardas bem: a Anchorage Digital anunciou que foi escolhida para custodiar as criptomoedas dos fundos da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo. O banco de criptomoedas fundado por Diogo Mónica e com o estatuto “unicórnio” português, passará a guardar algumas das bitcoins do fundo iShares Bitcoin Trust ETF, em conjunto com a corretora norte-americana Coinbase. Atualmente, o fundo detém mais de 575 mil unidades da criptomoeda, avaliadas em mais de 45 mil milhões de dólares a preços de mercado.

Rapidinhas

O Conselho das Finanças Públicas prevê um défice de 1% no próximo ano e aconselha uma gestão "prudente" da despesa pública nos próximos anos.

Minecraft é o mais recente filme a usar a tecnologia de som da portuguesa Sound Particles. A tecnologia da startup, sediada em Leiria, já tinha sido usada em grandes produções, como Oppenheimer, Missão Impossível, Indiana Jones, Star Wars, ou Dune.

A Apple fretou voos de carga para transportar 600 toneladas de iPhones, para os EUA provenientes da Índia, de modo a contornar as tarifas de Trump.

Segundo uma denúncia, a Meta terá comprometido a segurança nacional dos EUA, ao fornecer de dados de utilizadores à China.

Uma fonte anónima reporta que Trump planeia uma parada militar, custando 92 milhões de dólares, para comemorar o Dia da Bandeira dos EUA, e, por coincidência, o seu 79º aniversário.

NAUTA DA SEMANA
Junior Data Consulting

Já antes destacada na nossa edição especial de Natal, a Junior Data Consulting (JDC) é a Júnior Empresa da NOVA IMS, especializada em consultoria tecnológica orientada por dados. Fundada em 2020 por estudantes que queriam aplicar o que aprendiam em sala de aula ao mundo real, é hoje composta por uma equipa de mais de 60 membros.

No dia 5 de abril de 2025, a JDC foi distinguida como Júnior Empresa Mais Promissora de Portugal nos JeniAL Awards, um reconhecimento que destaca o crescimento acelerado, a inovação e o impacto do talento jovem no Movimento Júnior nacional. Esta distinção surge após um crescimento de 300% na faturação de 2023 para 2024, um marco notável para uma estrutura 100% gerida por estudantes universitários.

O que os diferencia?

A JDC transforma dados em decisões. O verdadeiro “core” da equipa está na capacidade de transformar problemas abstratos em dashboards que falam, algoritmos que antecipam e decisões que se fundamentam. Tudo isto com um propósito: criar valor concreto, mesmo quando os recursos são limitados e o tempo é curto (porque sim, também há exames pelo meio).

O que os distingue não são só as ferramentas que utilizam, de Machine Learning a Business Intelligence, mas a forma como as usam: com uma visão crítica, uma vontade genuína de aprender e uma enorme ambição de provar que o talento jovem não é apenas promissor… é já uma força de transformação.

Planos para o Futuro?

Após ser reconhecida como a Júnior Empresa Mais Promissora do país, a JDC aposta na expansão internacional. A missão? Levar tecnologias de ponta a mercados emergentes, contribuindo para acelerar a digitalização em geografias menos desenvolvidas tecnologicamente.

Paralelamente, há um compromisso renovado com o mercado nacional, através de uma aposta clara no desenvolvimento de soluções inovadoras em Inteligência Artificial, com foco na ética, transparência e usabilidade.

Com apenas cinco anos de existência, a JDC está a construir um percurso ancorado na excelência técnica, na responsabilidade social e na ambição de preparar a próxima geração de líderes da transformação digital.

RECOMENDAÇÃO

Margin Call - O Dia Antes do Fim

Lembras-te quando o professor trazia um filme para a turma ver nos últimos dias do ano letivo? Esta recomendação vai mais ou menos no mesmo espírito.

Com o estupendo título em português de “O Dia Antes do Fim”, Margin Call conta a história de vários funcionários de um banco de investimento americano, dias antes da crise financeira de 2008. Quando um analista descobre que grande parte dos ativos do banco estão sobre-financiados, e que se o preço deste ativos descer haverá uma enorme margin call* que irá levar o banco praticamente à bancarrota, decisões morais e financeiras têm de ser feitas que irão testar não só a ética das personagens, como a sua reputação.

E se achares que isto é demasiado real para ser verdade, fica a saber que embora esta não seja uma história verídica, é baseada no curso de ação da Goldman Sachs pré-crise do Subprime.

ABC DO DINHEIRO
Margin Call