MERCADOS FINANCEIROS

Praça do Comércio

A notícia mais importante da semana: a Reserva Federal dos Estados Unidos da América manteve os juros inalterados pela segunda vez consecutiva!

Enquanto nós, aqui na Europa, já estamos nos 2,5% (assim definidos pelo Banco Central Europeu após um excelente trabalho de gestão da inflação na nossa União Europeia), os americanos lutam contra inflação persistente e o seu próprio Presidente… Assim fica difícil, não é?

Como tal, Jerome Powell, líder do banco-mor dos EUA, tem um trabalho que ninguém inveja: equilibrar a inflação com o caos e as tarifas da Casa Branca (que começam a dar indicações de recessão). Como esperado, optou por não cortar os juros que vão-se manter no intervalo entre 4,25% e 4,5%. O último corte é de dezembro de 2024 e nessa altura, com a “Fed” dividida, os analistas apontavam para apenas 2 cortes em 2025.

Agora que as tarifas são reais, a realidade é outra. A Reserva Federal subiu as projeções de inflação para 2,7% (em vez de 2,5%) e reduziu o crescimento económico para 1,7% (em vez de 2,1%). Ou seja, a equipa liderada por Jerome Powell está ainda mais dividida entre mais cortes (para salvar a economia) ou talvez nenhum corte (para estagnar a inflação)!

Mas isto não é só sobre americanos… Infelizmente!

A verdade é que os europeus tendem a investir nos mercados americanos (mais sobre isso em baixo) e, para além dos riscos aos nossos portefólios financeiros, há também o risco para as nossas carteiras: a Presidente do Banco Central Europeu avisa que as tarifas da Casa Branca podem aumentar a inflação em 0,5% na Zona Euro (mais sobre isso em baixo)!

Mercados ao rubro: a morte das 7 Magníficas!

Apple, Amazon, Alphabet (dona do Google), Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla. Há não muito tempo atrás, estas 7 Magníficas eram a bandeira da galopante economia dos Estados Unidos da América. Agora estão todas de rastos.

Primeiro a Tesla: desde a inauguração de Donald Trump que a Tesla está a sangrar…

E a ferida tão cedo não deve estancar pois a sua principal rival, a chinesa BYD, agora consegue carregar os seus veículos elétricos em 5 minutos. Como se não fosse suficiente, o famoso Cybertruck está a cair aos pedaços (literalmente). Por outro lado, há quem defenda que a aposta da Tesla nos eleitores de Donald Trump vai falhar. 

Invariavelmente, à direita ou à esquerda, ninguém quer comprar carros maus e a cair aos pedaços, sobretudo a preços acima do mercado. Como brinca o lendário comediante Stephen Fry: “Musk não é nazi… Os nazis faziam carros muito bons.”

A Elon Musk resta agora suplicar que os acionistas e trabalhadores “se agarrem” às ações. Não é bom agoiro.

Depois do Patinho Feio, a NVIDIA: ao contrário do que a ação está a demonstrar, os últimos resultados da NVIDIA foram melhores do que o esperado. Além disso, a empresa continua a ter o monopólio à volta da infraestrutura essencial para a revolução da Inteligência Artificial (IA). Nada disto mudou.

A nossa tese é que os mercados, em correção, são para levar a sério. Os investidores estão assustados com as tarifas de Trump (que já afetam a NVIDIA) e a bolha da IA (tecnologia que ainda não acrescentou o valor esperado à economia) está a perder fulgor. Assim, não é totalmente estranho que a ação da NVIDIA tenha feito uma “cruz da morte”!

A dona do Facebook sobreviveu mais do que todas as outras, talvez devido ao rebranding do CEO Mark Zuckerberg como “bro-ligarca”, mas a Meta juntou-se às restantes 7 Magníficas na triste família das quedas de 2025.

Já a Google fez a sua maior compra de sempre e por uns míseros 32 mil milhões de dólares comprou a gigante de segurança em cloud, a startup Wiz!

No Nosso Rectângulo (e no Brasil): o maior banco privado português, o BCP (a ação que mais cresceu na nossa bolsa em 2024) vai fechar os seus escritórios no Brasil, uma operação que decorria desde 1997.

TENDÊNCIAS
Estará o capitalismo a aproximar-se do fim?

O niilismo financeiro está a crescer na Geração Z.

Porventura já ouviste falar do niilismo (ou, em inglês, nihilism), uma corrente filosófica que rejeita certos aspetos da realidade humana, como o sentido da vida, e que foi popularizada pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Em 1882, Nietzsche prenunciou a morte de Deus. Em 2025, poderemos estar à beira de enterrar outra entidade mítica: o Capitalismo.

O conceito de Niilismo Financeiro é atribuído ao analista financeiro Demetri Kofinas (que nem tem página na Wikipédia!). Descreve o sentimento crescente de que as vias tradicionais para a estabilidade financeira (casa própria, mobilidade ascendente, acumulação de património) estão cada vez mais fora do alcance das gerações mais jovens.

Há vários dados que ilustram este facto:

• Habitação cada vez mais inacessível: Os preços medianos das casas em relação ao rendimento mediano estão a subir cada vez mais.

• Distribuição desigual da riqueza: Os 50% mais pobres dos americanos viram a sua quota de riqueza estagnar ou diminuir, enquanto a riqueza dos 1% mais ricos continua a ganhar terreno.

Estas dificuldades culminam, para muitos Gen Zers, num distanciamento crescente do significado do dinheiro, da riqueza e do esforço num mundo em que os resultados financeiros parecem muitas vezes aleatórios ou desligados do mérito pessoal.

Em resposta a estes desafios estruturais, muitos recorrem a comportamentos financeiros de alto risco e alta recompensa, como as apostas desportivas, que explodiram em popularidade, as meme stocks, e o mercado de criptoativos, que promete recompensas financeiras muito maiores e mais rápidas do que os mercados tradicionais de ações.

O niilismo financeiro é potenciado pelas redes sociais, que muitas vezes expõe casos de ganhos massivos feitos de forma aparentemente “ao calhas”. Porque é que vais perder tempo a analisar um potencial a longo prazo de uma ação, quando podes multiplicar o teu investimento 1000x numa meme coin? Só tens de estar no sítio certo à hora certa. Não há valor intrínseco, há apenas o timing perfeito.

O niilismo financeiro é muitas vezes o reflexo um niilismo existencial e político mais profundo, em que a crença na justiça e na estabilidade se desvanece cada vez mais.

A desilusão económica, exacerbada por acontecimentos como a crise financeira de 2008 e as políticas monetárias da era da pandemia manifesta-se numa mudança cultural mais ampla no sentido do imediatismo e de estratégias alternativas de construção de riqueza.

Alguns analistas sugerem mesmo que o niilismo financeiro pode assinalar o declínio do capitalismo tradicional tal como os nossos pais e avós o conheceram.

ECONOMIA

Guerra de tarifas - qual o impacto?

As previsões da tempestade comercial apontam para retaliações, volatilidade de custos e preços…

O Banco de Portugal estima que o impacto global das tarifas poderá levar a uma redução cumulativa do PIB português em 1,1% no final de três anos, com os efeitos concentrados nos dois primeiros anos. Neste cenário adverso, a economia portuguesa crescerá apenas 1,4% este ano, ao invés dos 2,3% estimados no cenário base.

Mário Centeno refere que esta evolução será consequência da imprevisibilidade das políticas comerciais futuras, da adoção de medidas de retaliação e da volatilidade induzida nos custos de produção e nos preços dos bens, o que irá levar a uma redução do investimento e do consumo privado.

O Banco Central Europeu alertou que a imposição de tarifas de 25% sobre importações europeias pode reduzir o crescimento da zona euro até 0,3% no primeiro ano e aumentar a inflação 0,5%. Este cenário poderá confirmar-se caso retaliação da UE e uma taxa de câmbio do euro mais fraca, a curto prazo, resultante da menor procura de produtos europeus nos EUA.

Christine Lagarde alertou que o impacto das tarifas poderá não ser linear devido a uma reconfiguração das cadeias de abastecimento globais, onde uma maior integração com o resto do mundo poderá compensar as perdas sofridas pelas tarifas unilaterais, incluindo retaliações.

FINANÇAS

União (Europeia) da Poupança e do Investimento

A estratégia da UE para incentivar aos investimentos

As famílias europeias poupam 1,4 biliões de euros por ano. No entanto, 300 mil milhões de euros dessas poupanças são investidos em mercados fora da UE. Esta segunda-feira, a Comissão Europeia revelou um plano para canalizar até 10 mil milhões de euros de depósitos bancários em todo o bloco para investimentos estratégicos. 

A proposta de criação de uma União da Poupança e do Investimento (SIU) tem por objetivo incentivar as famílias a investirem nos mercados de capitais, para que a UE possa manter-se competitiva face a actores mundiais como os EUA e a China. Para tal, será proposto aos Estados-membros que adotem regimes fiscais mais favoráveis para quem pretende investir.

Rapidinhas

Numa sessão sobre literacia financeira, Mário Centeno recomendou que não se abuse dos pagamentos automáticos e que é preferível realizar pagamentos em numerário como forma de controlar despesas.

Segundo um estudo do Centro de Investigação do Bem-Estar da Universidade de Oxford, a Finlândia é o país mais feliz do mundo pelo oitavo ano consecutivo, seguindo-se outros países nórdicos, Dinamarca, Islândia e Suécia. Portugal caiu 5 posições e ocupa a 60ª posição.

A Sonae fechou o ano de 2024 com lucros de 223 milhões de euros, o que representa uma subida de 18%, com receitas recorde de quase 10 mil milhões de euros. O Grupo vai propor um dividendo de 5,921 cêntimos, mais 5% que a remuneração paga no ano anterior.

A inteligência humana está em declínio acentuado. Segundo o Financial Times, pessoas de todas as faixas etárias estão a ter dificuldade em concentrar-se e a perder capacidades de raciocínio, resolução de problemas e processamento de informação.

Na quarta-feira, Trump e Zelenskyy tiveram uma conversa “construtiva” sobre a possibilidade de um cessar-fogo entre Kiev e Moscovo. Trump sugeriu que os EUA poderiam controlar as centrais elétricas ucranianas.

ALERTA NAUTA: caros leitores madeirenses, não se esqueçam de exercer o vosso direito de voto este domingo (amanhã)!

NAUTA DA SEMANA
Bloq.it

A Bloq.it, startup portuguesa especializada em cacifos inteligentes para logística, encontrou a chave para expandir na Alemanha! Em parceria com a DeinFach e com o suporte da DHL, vai instalar 1.000 cacifos até ao final do ano, abrindo portas (literalmente) para entregas mais eficientes.

O que faz a Bloq.it?

Fundada em 2019, a Bloq.it é tipo aquele amigo que nunca perde as chaves – só que para a logística. Esta empresa desenvolve cacifos inteligentes, armários automatizados que permitem a entrega e recolha de encomendas sem necessidade de contacto direto. O seu software Bloq.OS permite gerir redes abertas de cacifos de forma remota, facilitando o trabalho de empresas logísticas e garantindo que os consumidores tenham acesso a um ponto de entrega sempre disponível.

 Planos para o Futuro?

Para cimentar (ou melhor, trancar) a sua presença na Alemanha, a Bloq.it vai investir 2 milhões de euros, contratar uma equipa local e expandir o Bloq.OS. E o crescimento não vai parar! Em 2024, a empresa catapultou a faturação para 36 milhões de euros, aumentou a equipa para 160 pessoas e já opera em seis países. Com a parceria com a Deinfach a Bloq.it reforça o seu estatuto de mestre das entregas inteligentes – e prova que, no mundo da logística, quem tem cacifos, tem tudo!

RECOMENDAÇÃO

Liderados e Enfuriados

Já sentiste que a velocidade no mundo dos negócios pode ser um problema? Muitas vezes, ouvimos que “quem anda depressa, tropeça”, mas será que tem de ser sempre assim? O artigo "Leaders Can Move Fast and Fix Things" mostra que é possível avançar rapidamente sem ‘emigalhar’ tudo pelo caminho. Os autores explicam como grandes líderes equilibram velocidade e responsabilidade, garantindo que as mudanças são eficazes e sustentáveis.

Queres saber como resolver problemas sem cair em armadilhas comuns? Descobre as quatro estratégias essenciais para liderar com agilidade e inteligência. Se preferes aprender através de vídeos, experimenta ver esta conversa com os autores: se trabalhas melhor com vídeos, vê aqui.

ABC DO DINHEIRO
Lucro económico